Ser uma PAS não é (e não tem porque ser) sinônimo de sofrimento

Ser uma PAS não é (e não tem porque ser) sinônimo de sofrimento

24/09/2020 artigos,destaque,Slide Rosalira Oliveira

 

Pessoa em sofrimento“Como é difícil ser altamente sensível!”, “Ser uma PAS é muito sofrido!”, “As pessoas são muito insensíveis, ninguém me entende.” … Costumo ler estes e outros comentários semelhantes com frequência nas minhas redes sociais. E, embora eu possa empatizar com a dor que estas palavras expressam, me sinto obrigada a reafirmar que ser altamente sensível é apenas um traço de personalidade que não traz, em si mesmo, nenhuma vinculação com o sofrimento. Por outro lado, ser altamente sensível, não reconhecer o seu traço, não investir no autocuidado e no desenvolvimento pessoal, pode (atenção, pode!) levar a uma postura diante da vida capaz de trazer incompreensão e sofrimento. Como se vê trata-se de duas situações absolutamente distintas.

 

A verdade é que muitas pessoas altamente sensíveis não sofrem de maneira alguma por terem esse traço. Ser PAS não significa chorar por tudo e por nada, não ter limites, não saber lidar com o mundo ou sentir-se isolado e solitário…Não é um carma e, sinceramente, não precisa ser um problema ou uma dor de cabeça.

Então, o que realmente significa ser altamente sensível???

Simples: ser uma pessoa altamente sensível significa tão somente ter um sistema neurossensorial delicado e muito responsivo, que faz com que nossos sentidos sejam mais “abertos” e captem mais do mundo. Esta característica nos faz receber – de maneira consciente ou inconsciente – mais informação do meio ambiente e captar detalhes e sutilezas que a maioria das pessoas não percebe. Além disso, ela nos leva, a processar esta informação de uma maneira muito profunda, pensando e repensando sobre aquilo que captamos.

 

Receber e processar tanta informação, e com tanta profundidade, nos torna mais propensos à saturação e ao estresse. E esta tendência constitui um dos nossos pontos fracos. Por outro lado, ser PAS significa também que vamos vivenciar as emoções de uma maneira mais intensa e que tendemos a ser bastante empáticos. Isto pode levar as outras pessoas, que não compartilham o nosso traço, a nos classificarem como muito emocionais, e até mesmo, exagerados.  E pronto. Acabou. Isto é tudo. Estas são as quatro características que, segundo a dra. Elaine Aron, identificam uma pessoa como sendo altamente sensível. Repare que em nenhum momento se falou de ansiedade, depressão, de sentir-se indefeso ou de experimentar o mundo como um lugar hostil.

 

Trata-se de um traço evolutivo, presente em mais de cem outras espécies como um tipo de compensação à atitude mais impulsiva e menos reflexiva da maioria dos indivíduos[i]. Não é algo optativo, é um traço genético e inato, algo que lhe foi transmitido por um ascendente muito próximo (geralmente um pai ou uma mãe). É algo que lhe enriquece e lhe faz desfrutar da vida de uma maneira mais intensa – com mais detalhes e mais emoção – mas, que também, pode lhe levar a sentir mais profundamente as situações dolorosas e ficar preso(a) num mundo de sofrimento. Tudo depende da sua escolha.

 

A escolha se expressa, exatamente, na maneira como você lida com o seu traço. Você pode decidir conhecer mais sobre a alta sensibilidade e aprender como lidar com as dificuldades inerentes ao traço – porque elas realmente existem – ou pode ignorar suas necessidades específicas e se tornar um(a) forte candidato(a) ao estresse e ao sofrimento emocional.

Sofrer ou não sofrer: Eis a questão autocuidado x sofrimento

A verdade é que ser altamente sensível implica em ser afetado de maneira mais profunda pelas circunstâncias – sejam elas boas ou más, alegres ou dolorosas.  Esta condição pode fazer com que uma PAS necessite investir tempo e esforço na tarefa de aprender a gerir o traço da alta sensibilidade para lidar melhor com a emocionalidade profunda, a vulnerabilidade ao estresse, a empatia e outras características vinculadas ao traço.

 

Quando uma PAS negligencia esta tarefa – por desconhecimento ou não aceitação do seu traço de personalidade – as dificuldades associadas à alta sensibilidade se fazem sentir de maneira mais aguda. Uma das consequências desta atitude é viver com os nervos à flor da pele, em um estado constante de sobressaturação, que tem como resultados: o estresse, a ansiedade, a sensação de não ter controle sobre a própria vida e/ou a reações emocionais desproporcionadas, como ir do choro a raiva em questão de minutos.

 

As pessoas altamente sensíveis que não aprendem a gerir o seu traço podem apresentar um comportamento muito diferente daquilo que consideramos “sensível”. Assim é comum encontrarmos PAS que estão sempre queixosas, zangadas, ou de mau humor. Ou ainda que atuam como vítimas, sempre infelizes, derrotadas e culpando as outras pessoas pelos seus infortúnios. E por fim, há as PAS que adotam o papel de mártires, arrastando seu sofrimento pela vida à fora e reclamando da “ingratidão” das outras pessoas que não valorizam seus “sacrifícios”. Os exemplos são muitos, mas o importante é deixar bem claro que nada disso é consequência da alta sensibilidade, mas sim, o resultado da atitude adotada diante do traço de personalidade.

 

autocuidado para evitar sofrimentoEm contrapartida é possível também encontrar muitas PAS que vivem os aspectos positivos do traço. Estas pessoas aprenderam, sozinhas ou com ajuda, a cuidar-se de uma maneira diferenciada: descansando mais, reduzindo a quantidade de estímulos e, sobretudo a não cair na armadilha de querer ser “como todo mundo” e atender as suas necessidades específicas. Estas são as PAS que estão atuando no mundo e que chamam a atenção pelos seus dons e talentos – muitos deles também vinculados ao traço – e não pelo sofrimento por ser altamente sensível. Na verdade, creio que estas pessoas são a maioria: gente que, sendo altamente sensível, está em paz com o seu modo de ser.

 

coração sofrimentoMas, eu estou sofrendo. O que faço?

Por outro lado, eu também sei que há um grupo grande de PAS que está realmente sofrendo. Porque não se entendem, porque não conhecem o traço e não o entendem, porque não sabem como se cuidar, porque lhes faltam as ferramentas e a capacidade de superação ou simplesmente porque estão se sentindo esgotadas e sem esperanças. Se você se identifica com esta situação, permita-me lhe indicar algumas atitudes que considero essenciais para mudar este jogo.

 

  1. Reserve algum tempo para a inatividade

A prática mais essencial para qualquer PAS é garantir algum tempo de inatividade todos os dias. Isso também inclui dormir o suficiente para se sentir descansado(a). O tempo de inatividade é essencial para as pessoas altamente sensíveis.  Devido à nossa propensão para o processamento em profundidade, precisamos de mais tempo do que para digerir as informações que captamos do mundo ao nosso redor e nos recuperarmos da estimulação. O tempo de inatividade também nos ajuda a gerenciar nossa emocionalidade intensa, nos dando o espaço necessário para identificar e assimilar nossas emoções

  1. Priorize suas necessidades

Obter tempo de inatividade suficiente significa estabelecer limites em nossas atividades e, principalmente, em nossos compromissos com os outros. A dra. Elaine Aron diz algo muito importante: “Ninguém sabe o quanto você está cansado, exceto você.” Dizer não pode ser muito difícil para as pessoas altamente sensíveis, porque nos sentimos culpados quando decepcionamos os outros, mas é absolutamente essencial para evitar o esgotamento.

  1. Tire um tempo para a autorreflexão

Como sentimos tudo tão profundamente, é muito importante dedicamos algum tempo para refletirmos sobre nossas emoções e para encontrarmos maneiras saudáveis de expressá-las. Existem muitas maneiras de praticar a autorreflexão. Pode ser através de um Diário, da conversa com um amigo ou de algum tipo de arte, ou mesmo da prática de algum tipo de meditação ou da atenção plena. Crie a sua prática, alinhada às suas necessidades.

  1. Trabalhe no seu autoconhecimento

O primeiro passo é identificar a quais estímulos seu sistema reage de maneira mais intensa. De posse desta informação você se torna capaz de fazer escolhas, criar limites e estabelecer as fronteiras daquilo com que você pode lidar. E lembre-se:  mesmo que sua reação pareça desproporcional em relação à de outras pessoas, ela é verdadeira para você e, portanto, deve ser levada à sério.

  1. Estabeleça Limites

Uma vez que você conhece a si mesmo e reconhece que aquilo que está experimentando é real, pode começar a estabelecer limites. Reconheça aquilo que lhe afeta negativamente e coloque limites em relação à sua exposição a estas coisas: o que é demais para você? que relações não são saudáveis?  como você pode limitar sua exposição àquilo que sente como tóxico ou doloroso para você?

  1. Trabalhe no seu desenvolvimento pessoal

Todos nós temos problemas em relação a nossa autoestima, momentos de dúvida sobre nosso valor e crenças limitantes, inculcadas pela cultura e pelo ambiente em que crescemos. Nada disso é exclusivo das PAS. Porém, sendo tão empáticos e tendo a tendência a sentir tudo com tanta profundidade, estes temas podem afetar nossa vida de maneira particularmente intensa. Por isso, o compromisso com o autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal é um imperativo para as pessoas altamente sensíveis. Somente identificando nossos pontos frágeis e aprendendo a lidar com eles estaremos aptos a desfrutar das muitas vantagens que a alta sensibilidade nos outorga.

  1. Seja gentil consigo mesmo(a)

Muitas vezes internalizamos essas mensagens negativas sobre não sermos “bons o suficiente”, o que torna difícil sermos gentis conosco durante os momentos de frustração ou de dificuldade.  Mas a autocrítica não nos vai nos fortalecer e nem ajudar a encontrar a solução para nossos problemas. Ao invés disso, experimente usar práticas de autocompaixão para acalmar o seu crítico interior e aliviar o desconforto.

 

Estas são apenas algumas sugestões muito gerais. Mesmo assim, quando postas em prática, elas podem fazer uma grande diferença no seu nível de bem-estar. Se quiser saber como começar o seu autocuidado e conhecer ferramentas que vão lhe ajudar a criar um estilo de vida coerente com a sua sensibilidade, conheça o meu curso online:

 

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E, para lhe inspirar, deixo esta frase maravilhosa da dra. Elaine Aron:

 

As pessoas com alta sensibilidade têm um traço, uma maneira de sentir e compreender o mundo através de um sistema neurossensorial mais fino, nítido. E não é o que elas têm, é o que são. Por isso devem aprender a viver com o coração e com este dom maravilhoso, porque o sofrimento não é uma obrigação, mas uma opção que não vale a pena escolher”.

 

Beijos e bênçãos e até o próximo mês

 

[i] Já que a alta sensibilidade aparece sempre de maneira minoritária nas diferentes espécies.

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Sobre o autor
Rosalira Oliveira Sou coach com formação em coaching ontológico e especializada em alta sensibilidade. Fiz minha transição recentemente, quando encerrei meu ciclo como pesquisadora e doutora em antropologia cultural e tornei-me criadora do “Ame sua sensibilidade”, um programa de coaching destinado a ajudar as pessoas altamente sensíveis a compreender e integrar em essa sua característica, de modo a viver uma vida com mais felicidade e significado.

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