Se há uma coisa que encontro com frequência entre meus clientes, ou em outras PAS…
Altamente sensível e totalmente esgotado(a): alta sensibilidade e burnout
Este é um artigo que já há algum tempo eu pretendia escrever. Porém, o tempo (ou a sensação da falta dele) é, exatamente, parte do problema que nos acomete a todos (sejamos PAS ou não), não é mesmo? E eu também tenho padecido deste sentimento de que minhas tarefas e obrigações não cabem nas 24hs do meu dia.
Se você for como eu, e boa parte dos altamente sensíveis, talvez tenha dificuldades para perceber quando é hora de recuar e reavaliar o seu estilo de vida e “simplesmente” comece a acelerar cada vez mais tentando dar conta de todos os compromissos do seu dia a dia. Você se reconhece nesta descrição? Se sim, saiba que você é um grande candidato(a) ao esgotamento e ao burnot. Se é que já não passou por esta situação.
Se este é o seu caso saiba que não está sozinho(a). Embora as PAS sejam mais propensas a isto, o esgotamento, ou burnout, é uma espécie de epidemia em nossa sociedade que glamouriza a agitação e os excessos como um ideal de estilo de vida. Mas, antes de tratar das características vinculadas ao traço da alta sensibilidade que podem nos tornar mais vulneráveis a este problema, vamos começar pelo começo: o que é mesmo burnout?
Entendendo o burnout
O termo “burnout” vem do inglês é o resultado da junção de duas palavras: “burn”, que quer dizer queimar, e “out”, que significa exterior. Então, a síndrome de burnout pode ser caracterizada como uma queima de fora para dentro. Ou seja, um estado no qual os fatores externos causam uma pressão excessiva no interior, do indivíduo. Quando o corpo e mente não conseguem mais se recuperar devido ao estresse duradouro e tornam-se mais e mais exaustos a cada dia estamos diante de um burnout.
As pessoas tendem a pensar no burnout (que podemos traduzir como esgotamento) como sendo um problema exclusivamente relacionado ao trabalho. Mas, a verdade é que muita gente acaba caindo neste estado por conta de uma combinação de fatores, que incluem o trabalho, a vida privada e outros fatores mentais e emocionais que causam estresse crônico. Entre estes eu poderia citar: estar constantemente ocupado sem tempo/espaço para relaxamento; a autocobrança e a autoexigência; o perfeccionismo e as altas expectativas em relação a si mesmo(a) e às outras pessoas; viver sob tensão constante, etc. Se você olhar com atenção para esta pequena lista começará a compreender por que nós, altamente sensíveis, somos particularmente vulneráveis ao esgotamento. Infelizmente, é um fato que quase todos estes fatores figuram entre as dificuldades comuns às pessoas que possuem o traço da alta sensibilidade.
Porque as PAS são mais vulneráveis?
A alta sensibilidade nos dota de um sentido muito apurado de responsabilidade – para com nosso trabalho, família, amigos e com o mundo em geral. Isto pode nos levar a assumir mais do que podemos lidar em termos de tarefas, compromissos e atividades, gerando, como consequência, um estado de esgotamento. Existem várias razões pelas quais as PAS são particularmente vulneráveis ao burnout, entre elas:
- Nosso sistema nervoso altamente reativo que facilmente se torna sobrecarregado pelos excessos: de atividades, demandas, estímulos, pensamentos e emoções (tanto nossas quanto das outras pessoas).
- Nossa empatia natural nos torna mais propensos a fazer esforços para agradar as outras pessoas e manter a harmonia. Isso pode resultar em autossacrifício e no esgotamento da nossa energia.
- Nossa autoexigência e perfeccionismo podem nos levar a estabelecer padrões inatingíveis de desempenho e a nos desgastarmos na tentativa de atingi-los.
Se você se identifica com estas situações, acenda o alerta vermelho e analise o estilo de vida que você está adotando e suas consequências para a sua saúde física e mental.
E como eu sei se estou esgotado(a)?
É importante saber que, como ocorre em outras doenças multifatoriais, o burnout não é um diagnóstico simples e não há um conjunto oficial de critérios usados para identificar esta condição. No entanto, existem alguns indicadores de esgotamento que são aceitos pela maioria dos profissionais de saúde mental.
- Aumento dos sintomas de saúde física. Quando estamos esgotados, nossos corpos sentem isso. Isso pode aparecer como dores de cabeça mais frequentes, náuseas, dores no corpo ou outras doenças físicas. O esgotamento também compromete nosso sistema imunológico, o que pode resultar em resfriado, gripe ou outras doenças contagiosas.
- Fadiga crônica. Quando estamos esgotados nos sentimos completamente exaustos. Este é um cansaço diferente que não se parece com aquele que sentimos ao final de um dia agitado ou depois de uma noite mal dormida. A fadiga associada ao esgotamento é tão intensa que, não importa o quanto descansemos, ainda nos sentimos cansados.
- Apatia. A falta de entusiasmo é algo que acompanha o burnout. Parece que nada “tem graça”. Mesmo as atividades que antes nos davam prazer, agora são apenas obrigações que cumprimos sem qualquer prazer.
- Problemas de saúde mental. O esgotamento afeta nosso bem-estar mental. Isso pode levar a um impacto muito forte em nossa saúde mental, trazendo problemas como a depressão e a ansiedade.
- Envolver-se em comportamentos entorpecentes. Às vezes, quando estamos esgotados demais recorremos a qualquer coisa para entorpecer esse sentimento. Geralmente estes comportamentos entorpecentes não são saudáveis. Os exemplos podem ser tão simples como assistir tv ou jogar videogames por horas a fio, ou tão perigosos quanto o abuso de substâncias ou comportamentos alimentares desordenados.
- Procrastinação. Quando estamos esgotados nossa mente tenta nos proteger das fontes de esgotamento. Isso geralmente se manifesta como um sentimento de pavor em relação a qualquer tarefa/atividade na qual seja necessário despender energia seja física, mental ou emocional.
Como podemos evitar o burnout?
A boa notícia é que, embora não se trate de algo simples, existem ações que podemos tomar para prevenir o burnout, ou como medidas de apoio quando ele já se instalou. Se você não apresenta sintomas graves de esgotamento, mas tem medo de estar em risco, algumas destas sugestões podem lhes ser particularmente úteis neste momento.
1. Ouça seu corpo
Seu corpo é seu guia. Ele lhe dirá o que você precisa se você prestar atenção às suas mensagens. Vivemos em uma cultura que nos pressiona o tempo todo para fazer cada vez mais. Como uma PAS é importante que você verifique regularmente como está pressão está impactando você. Para um pouco e pergunte-se: “Como meu corpo e minha mente estão lidando com toda a pressão que estou colocando sobre mim?”
2. Trabalhe para reduzir o estresse com escolhas de estilo de vida saudáveis
Outra tarefa muito importante é apoiar os processos de recuperação do seu corpo. Dois meios muito bons para isto são uma dieta rica em substâncias vitais e um programa de exercícios leves. O exercício produz endorfinas que melhoram seu humor, lhe ajudam a dormir melhor reduzem os hormônios do estresse, como adrenalina e cortisol. Comer bem, dormir o suficiente e equilibrar trabalho e descanso desempenham um papel importante para ajudá-lo(a) a gerenciar bem o estresse.
3. Questione suas expectativas sobre si mesmo(a)
Pergunte-se: com quais tarefas posso lidar? Quais me sobrecarregam ou exaurem? Como posso melhorar minha rotina? Que tipo de ajuda eu poderia obter? E acima de tudo: Não se compare com os demais (particularmente com os não PAS). Você é diferente, tem outras debilidades e outros pontos fortes. Procure descobrir e reforçar as suas habilidades e qualidades pessoais.
4. Aprenda a dizer não
Estabelecer limites é essencial para retomar o controle sobre seu tempo e sua energia. E é impossível fazer isto sem dizer não para uma série de coisas: convites, pedidos de ajuda, tarefas extras no trabalho, etc.
Uma dica: Quando precisar dizer não, pense nisto como a maneira de conseguir abrir espaço para dizer sim às coisas que você realmente deseja. Por exemplo: Se você disser não para a amiga que pediu ajuda para limpar a casa dela, estará livre para dizer sim para passar o fim de semana com sua família e por aí vai.
5. Mexa no seu ambiente
Trabalhe para reduzir o caos e a hiperestimulação em casa e no local de trabalho. Como PAS precisamos nos esforçar para criar ambientes mais calmantes para o nosso sistema nervoso. Faça uma reorganização dos móveis, diminua as luzes, crie espaços de armazenamento melhores, desenvolva novas rotinas, coloque sua mesa de trabalho em uma posição diferente onde haja menos movimento, etc. Enfim, busque alternativas para reduzir a quantidade de estímulos sensoriais agressivos aos quais você se expõe no dia a dia.
6. Aprenda técnicas de relaxamento
Lembre-se: o burnout é o resultado da sobrecarga mental, ou seja, da tensão permanente. Portanto, é muito importante incorporar fases de relaxamento na sua rotina. Dedique-se a descobrir uma ou mais técnicas que funcione para você e faça disto uma prática diária. Atividades prazerosas também devem ser parte integrante do seu cotidiano, e podem ser desde uma pausa para uma xícara de chá no meio do expediente até um passeio no parque todos os dias.
Para finalizar eu gostaria de lhe lembrar que prevenir o esgotamento é uma das coisas mais importantes que uma pessoa altamente sensível pode fazer por si mesma. E isto não é tão difícil. Quando você consegue ser flexível, permanecendo atento(a) aos seus compromissos e, ao mesmo tempo, à sua natureza altamente sensível, consegue fazer o necessário para vencer o burnout. E este esforço vale a pena.
Desejo-lhe uma vida consciente e um bom autocuidado para uma melhor qualidade de vida.
Beijos e bênçãos e até o próximo mês,