Você acha que pode ser uma pessoa altamente sensível e quer saber mais sobre o assunto?…
A jornada da alta sensibilidade: o caminho da integração
Por Fábio Cunha
Quando descobrimos o traço da alta sensibilidade a primeira sensação é, para muitos, de um profundo alívio, pois entendemos o verdadeiro motivo de não nos sentirmos como pertencendo a um mundo que foi feito por e para quem não é altamente sensível. Muitos também têm um sentimento de validação e a percepção de serem aceitos como são, que surge da compreensão de não somos “um ser humano defeituoso” que precisa ser consertado.
A partir daí começa uma jornada gradual onde vamos escolhendo dia a dia, de acordo com nossas possibilidades, viver uma vida coerente honrando nossa sensibilidade.
Visão de Mundo: Seja firme, seja forte para vencer!
Visão de mundo é a forma que cada um de nós enxerga e compreende o funcionamento do mundo onde vivemos. Essa visão estabelece o nosso código de conduta na vida e o que esperamos dos outros. Seja firme, seja forte, vença – é o mantra da visão de mundo dominante, que a é herança da revolução industrial e científica. O mundo é visto como um mecanismo complexo que pode e deve ser compreendido racionalmente. A medida de sucesso é a produtividade e a meta do ser humano é vencer os outros. O mundo moderno foi construído sob o comando dessa visão, destacando somente o resultado alcançado sem observar os efeitos colaterais. Ela estabelece que:
Não há como as pessoas mais sensíveis se encaixarem e fazerem parte disto. Ao tentar, elas acabam sofrendo ou tendo que amortecer os seus sentimentos, o que gera ainda mais sofrimento. Pensar que o mundo é obrigatoriamente assim é desesperador. Porém, esta é apenas uma possibilidade, uma visão de mundo. Outras visões de mundo podem coexistir e já podemos testemunhar outras possibilidades mais humanas, mais saudáveis e íntegras surgindo e ganhando força.
A jornada da alta sensibilidade
O mundo, mesmo duro, mesmo exigindo que as emoções e sentimentos sejam ocultados, ainda é formado por seres humanos que se encantam com as realizações das almas mais sensíveis. O deslumbramento, a emoção despertada por uma música, uma poesia, um filme, é capaz de abrir o coração e trazer novas cores à visão de mundo daqueles que são tocados por elas. Do mesmo modo, os discursos políticos mais profundos e sensíveis, a luta por inclusão e justiça, que vem de uma visão de mundo mais humana e igualitária, têm transformado o mundo.
Existe uma visão de mundo mais sensível, mais humana, que nasce de uma crença profunda que a qualidade de vida é mais valiosa do que vencer a competição, que a conexão humana é mais satisfatória do que dominar os outros e que sua vida é mais significativa quando você passa o tempo refletindo sobre suas experiências e liderando com seu coração. Essa forma de viver afirma que:
Pode haver beleza e poesia nos negócios e os sentimentos e emoções são tão importantes quanto a nossa razão para tomar decisões. As PAS têm a tendência a serem guiadas por valores éticos profundos e colocam o senso de propósito comum acima do ganho pessoal. Mas, elas precisam ter um ritmo de trabalho apropriado para cultivar o lado positivo de sua sensibilidade e cuidar de sua energia para não se sobrecarregar, exigindo um novo formato de trabalho que priorize a saúde. As emoções devem estar presentes nas decisões lado a lado com a razão e, ao invés de reprimi-las, devemos nos tornar especialistas nelas.
Uma jornada no caminho da sensibilidade
O que aconteceria se começássemos a escolher seguir a visão de mundo do caminho da sensibilidade?
-
O primeiro passo neste novo caminho é aceitar a sua própria sensibilidade
Inicialmente, quando as pessoas ainda não conhecem o traço, mas percebem em si e exibem as características da alta sensibilidade, elas tendem a negar essas características e rejeitam a possibilidade de serem mais sensíveis que as outras pessoas porque sentem que precisam se encaixar e pertencer.
Estas pessoas compraram totalmente a ideia de que precisam ser firmes e fortes o tempo todo e tentam provar, a si mesmas e as outras, que são iguais e que podem vencer jogando o mesmo jogo. Porém a sensibilidade não pode ser desligada e, no seu íntimo, elas sentem a angústia da desconexão de tentar ser aquilo que não são. Quando se sentem super estimuladas, como qualquer pessoa altamente sensível, ficam irritadas, deprimidas e se culpam por isso. Muitas delas buscam amortecer estes sentimentos com álcool, drogas e outros comportamentos viciantes, que acabam tendo o efeito contrário.
-
O segundo passo é a escolha consciente de incorporar os diferentes aspectos da sensibilidade em nossas vidas, sem nos colocar na categoria de “desajustados”.
Isso exige que abandonemos os velhos hábitos de ignorar os efeitos da alta sensibilidade e aceitar que eles simplesmente fazem parte de nós e que devemos estar dispostos a planejar nossas vidas de acordo com isso. Nesta fase as pessoas já se reconhecem como altamente sensíveis e podem até falar sobre isso com quem tem mais intimidade, mas ainda vivem uma vida dupla. No ambiente de trabalho ou em seu círculo social elas ainda “fingem” que são iguais aos outros e acabam participando de muitas coisas que não gostam e lhes fazem mal.
Nesta fase é importante ter carinho consigo mesmo e entender que mudar crenças e hábitos leva tempo. Esta compreensão é necessária porque a habilidade de fazer escolhas a partir da sensibilidade e estabelecer limites é um aprendizado constante. Neste caminho há dias lindos e dias escuros, há a alegria das novas descobertas e, também, frustrações. Mas, este é agora é um caminho verdadeiro.
- A terceira etapa é quando você deixa para trás aquela visão de mundo que precisa competir e vencer e deixa de ver a sua sensibilidade como um fardo.
Ao invés disso, passa a integrá-la à sua vida diária, fazendo uma gestão adequada dos ambientes, estímulos e limites em sua vida e trabalho para expressar a sensibilidade em tudo o que você faz. São estas pessoas que criam uma nova cultura na sociedade: através da sua postura, seu exemplo e sua inspiração. Elas encontram maneiras de serem eficientes na sociedade sem sacrificar nenhuma de suas características, elas não têm receio em demonstrar e falar sobre sentimentos e emoções. Elas trabalham para a criação de empresas humanizadas e não têm medo de liderar demonstrando compaixão e vulnerabilidade.
Todos estamos juntos nesta jornada!