Ser altamente sensível e ajudar, ajudar, ajudar… até cansar!

Ser altamente sensível e ajudar, ajudar, ajudar… até cansar!

11/01/2024 artigos Rosalira Oliveira

 

Ajudar sempre, ajudar demais, ajudar até cansar. Esta costuma ser uma atitude comuns entre as pessoas altamente sensíveis. A maioria dos meus clientes tende a se esgotar no esforço de fazer com que tudo esteja bem o tempo todo. Para todo mundo, exceto para si mesmos.

 

Você se reconhece neste tipo de comportamento? Sim, saiba que não está sozinho(a). Eu mesma agi dessa maneira grande parte da minha vida (e mesmo hoje preciso estar atenta para não recair nesse padrão). Eu costumava me sentir responsável pelo bem-estar de todos: minha família, meus amigos, meu parceiro, meus colegas de trabalho… enfim, do mundo em geral. Meu comportamento era meio automático, já que, antes de parar para avaliar quais eram as minhas necessidades e possibilidades, eu saia correndo para tentar resolver o problema da outra pessoa. Por vezes, a pessoa nem precisava pedir, bastava que ela expressasse uma dificuldade e lá estava me oferecendo para ajudar.

 

E, embora tudo isto fizesse com que eu me sentisse pessoa boa e generosa, a verdade é que, na maioria das vezes, o que me movia era o desejo de me sentir valorizada e apreciada pelos demais. Mesmo que eu jamais admitisse isto naquela época, esse desejo oculto ficava bastante claro naqueles momentos em que eu me sentia injustiçada e machucada pela “ingratidão” das pessoas a quem eu havia “ajudado tanto”. Outro fator responsável pela minha eterna disponibilidade “ajudativaera o sentimento de culpa que me tomava cada vez que eu dizia “não” para  outra pessoa.

Por que somos assim: a dor e a delícia da empatia

empatia1Se você acompanha o meu trabalho seja aqui ou no youtube, já me ouviu dizer que a empatia é um dos quatro atributos que definem o traço da alta sensibilidade. Pessoas altamente sensíveis se caracterizam por possuírem um nível de empatia mais alto do que as demais. Este alto nível de empatia é, em grande parte, o responsável pela nossa dificuldade em dizer não. Graças a ele nós tendemos a nos colocar, de forma automática e involuntária, no lugar das outras pessoas e, a partir daí, podemos responder à necessidade delas. O problema é que muitas vezes fazemos isto, mesmo em detrimento das nossas próprias necessidades. Esta abertura para o Outro pode tornar difícil o processo de nos delimitarmos – ou seja nos diferenciarmo-nos – o suficiente para perceber, reconhecer e priorizar nossas necessidades e sentimentos.  

 

É claro que a empatia e o desejo de ajudar são características positivas, mas também vêm com algumas armadilhas das quais é importante estar consciente… No meu caso foram necessários muito tempo e uma certa humildade para perceber que, por trás desta minha atitude tão “generosa”, se escondia uma autoestima muito baixa e uma necessidade quase selvagem de agradar aos demais. E mais ainda que, na ânsia de ser prestativa, eu simplesmente me colocava em último lugar e negligenciava a mim mesma e as minhas necessidades – de tempo, de descanso, de dinheiro…e por aí vai.

 

É claro que ajudar aos outros é algo positivo. MAS, isto NÃO deve ser feito consistentemente às custas do seu bem-estar e, por vezes, da sua saúde.  Tem que ser algo sustentável, do contrário transforma-se numa armadilha. Veja que eu usei o termo consistentemente. É claro que existem situações nas quais precisamos nos doar de forma intensa para alguém necessitado, como quando estamos cuidando de uma pessoa doente, por exemplo. No entanto, se não encontrarmos consistentemente um equilíbrio saudável entre cuidar dos outros e cuidar de nós mesmos, podemos começar a desmoronar.

 

E como eu mudo este padrão?

Por serem dotadas deste alto nível de empatia, as  PAS geralmente  sentem que não podem deixar de ajudar e cuidar de seus semelhantes. E podem ter uma certa dificuldade em assumir a responsabilidade por suas próprias necessidades. Aqui vão algumas dicas que podem ser úteis

  1. Reconheça suas necessidades pessoais e defenda-as. 

Descubra o que é importante para você, no que vale a pena investir tempo e energia. Separe essas coisas que são boas para você pessoalmente das outras responsabilidades e favores que você só faz para o bem dos outros. Dedique mais tempo e energia para elas.

  1. Antes de oferecer qualquer ajuda, pare e analise os seus motivos.

Muitas vezes nos comprometemos a ajudar apenas por conta da ansiedade que a necessidade do outro gera em nós e depois nos arrependemos mais tarde quando percebemos que não queríamos ou não podíamos dar nossa ajuda. Por isso é vital que antes de comprometer-se você pare e analise a situação: porque você está se dispondo a ajudar (Qual a sua motivação? O que espera conseguir com isto? Ser reconhecido? Acalmar sua ansiedade?) seja sincero(a) consigo. E decida conscientemente se vai ajudar ou não.

  1. Preste atenção à sua energia: não se esforce além do seu limite.

Nenhum ser humano dispõe de uma reserva ilimitada de energia. Na verdade, os altamente sensíveis costumam dispor de menos energia que os demais já que o seu cérebro hiperativo consome demasiada energia. Por isto, todos precisamos estar atentos à maneira como gastamos a nossa energia vital.  Entretanto muitas PAS simplesmente não levam isto em consideração e se desgastam na tentativa de dar conta dos seus afazeres e das muitas tarefas que assumem para ajudar os outros. Preste atenção ao seu corpo e suas emoções e saberá em quando pode ajudar e quando não.

  1. Diga não de vez em quando (particularmente quando dizer sim contradiz suas próprias necessidades).

Sei que dizer não é algo difícil para nós. Porém entenda que sem isto não será possível cuidar das suas necessidades e nem preservar sua saúde e bem-estar. Dizer não, não significa ser rude ou duro. Um encantador “Desculpa, não vou puder” ou “Isso está sendo demais para mim no momento” não será usado contra você. Uma vez que você aprendeu a dizer não, é muito mais fácil dizer sim de todo o coração a boas tarefas e ofertas.

  1. Faça intervalos regulares para aliviar o estresse e recarregar energias.

Isso não significa que você deva fazer as malas e sair de férias por várias semanas. Um intervalo pode ser algo como dez minutos de meditação, meia hora de ioga, um banho relaxante ou uma caminhada ao ar livre. Esses momentos de inatividade não são importantes apenas para você: cuidar de si mesmo e dos outros anda de mãos dadas. Somente quando cuida bem de si mesmo você tem força para ajudar ativamente os outros.

 

Cuidado e autocuidado: as duas faces da moeda

Sei que pode ser difícil para você (e frequentemente é), mas às vezes é importante que você se coloque em primeiro lugar e deixe os outros esperarem. Isso não significa que você vai se tornar alguém egoísta que se preocupa apenas consigo mesmo(a). Significa apenas que você precisa aprender a pensar em si mesmo(a) e em suas próprias necessidades como uma maneira de cuidar da sua energia. Entenda que ajudar até cansar é a receita para o esgotamento, o estresse e o ressentimento.

 

Por isso: Não ignore suas necessidades e tire um tempo para você! Diga a si mesmo de vez em quando: estou fora! – de estresse e expectativas delirantes. Cuidado e autocuidado são realmente duas faces da mesma moeda. Afinal, não se pode tirar água de um poço seco, não é mesmo? Quando você não consegue se cuidar com carinho dificilmente será capaz de ter cuidado e carinho verdadeiros para com os outros, por mais que se esforce. E a razão é simples: Quando nos falta força e energia não resta nada para darmos aos outros. Pense nisto.

 

Beijos e bênçãos e até o próximo artigo.

 

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Sobre o autor
Rosalira Oliveira Sou coach com formação em coaching ontológico e especializada em alta sensibilidade. Fiz minha transição recentemente, quando encerrei meu ciclo como pesquisadora e doutora em antropologia cultural e tornei-me criadora do “Ame sua sensibilidade”, um programa de coaching destinado a ajudar as pessoas altamente sensíveis a compreender e integrar em essa sua característica, de modo a viver uma vida com mais felicidade e significado.

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