Autocuidado: a chave para ser feliz como uma pessoa altamente sensível

03/05/2019 artigos Rosalira Oliveira

 

Um dos temas mais tratados nos meus processos de coaching é a importância do autocuidado para as pessoas altamente sensíveis. Embora a maioria dos meus clientes se sinta aliviada ao descobrir que é possível equilibrar sua sensibilidade com pequenas mudanças na sua rotina e estilo de vida, a verdade é que, ao longo do tempo, fica claro que para eles é muito difícil colocar essas mudanças em prática, de forma permanente. E por que isso acontece? Embora exista uma série de razões que nos ajudam a entender esta dificuldade, a maior parte delas está associada às crenças negativas a respeito da sensibilidade, vista como um sinal de fraqueza.

 

Imagino que você pode estar dizendo: “Não Rosalira, eu não vejo a minha sensibilidade como uma fraqueza, de maneira alguma”. Neste caso, deixe-me lhe perguntar uma coisa: Como você se sente quando não consegue ir à academia à noite porque está cansado(a) demais após um dia de trabalho? Você entende que o nível de estímulos foi excessivo para você? Ou pensa algo do tipo: “Ah, mas eu nem trabalhei tanto assim. Todo mundo malha à noite. Por que só eu não consigo fazer isso?”  E quando você se percebe tomado(a) de emoção ao presenciar o sofrimento de outra pessoa, você aceita sua empatia e sua intensidade emocional ou disfarça e diz a si mesmo(a) que precisa “endurecer”?

 

Acho que você já percebeu, né? Existe uma diferença entre dizer que a alta sensibilidade não é uma fraqueza e aceitar a sua sensibilidade como uma característica que lhe torna diferente, mas não fraco(a). E diferente é a palavra-chave aqui. Não entender ou não aceitar a sua diferença leva muitas PAS a correrem atrás de um estilo de vida que (talvez) seja adequado às necessidades e ao nível de energia das outras pessoas, mas que seguramente é prejudicial para elas.   Muito bem, mas a pergunta permanece: como podemos conciliar nossa sensibilidade com as demandas da chamada “vida moderna”? A resposta é conhecendo e respeitando as nossas necessidades como pessoas altamente sensíveis.

 

As PAS precisam cuidar mais de si mesmas porquê …

 

  • Elas absorvem mais estímulos do que as outras pessoas

Os filtros de percepção das PAS são muito mais permeáveis. Como resultado elas registram muito mais dados sobre o meio ambiente. Isto é um presente, mas é também um desafio, principalmente quando estamos expostos a muitos estímulos. Porque nossa tolerância é menor e ficamos saturados com mais facilidade que as outras pessoas. Com isso vêm os sintomas do estresse: dores pelo corpo todo, dores de cabeça, mau humor, distúrbios do sono, desejo de fugir, de se aposentar e assim por diante.

 

  • Elas processam as informações recebidas de maneira mais profunda

Além de absorver mais estímulos (informação) do que as outras pessoas, as PAS também os processam de maneira mais profunda. Os altamente sensíveis têm uma tendência a analisar tudo, refletindo e comparando o que estão percebendo com sua experiência passada ou com coisas similares. Eles fazem isso tanto de maneira consciente quanto inconsciente. E gastam bastante energia neste processo. Seu cérebro está ativo 24 horas por dia e consome sozinho 20% da energia disponível. Em consequência, as PAS precisam de mais sono e descanso e devem distribuir cuidadosamente sua energia nas atividades do dia-a-dia.

 

  • Elas são mais vulneráveis ao estresse

O estresse tende a aumentar o consumo de energia, ao mobilizar todo nosso corpo para a resposta de lutar ou fugir. O corpo humano não pode sustentar a exposição prolongada ao estresse – mental, emocional ou físico – sem sofrer as consequências. Uma resposta prolongada ao estresse pode esgotar os nutrientes necessários para criar energia, como as vitaminas do complexo B e magnésio, especialmente se a ingestão alimentar for baixa. A ansiedade, que costuma acompanhar o estresse, contribui ainda mais para a estimulação excessiva da resposta ao estresse, ampliando a carência destes nutrientes. O estresse e a ansiedade a longo prazo podem resultar em níveis mais altos de cortisol, que tem um impacto negativo no sono, afetando ainda mais os níveis de energia.

 

  • Elas são muito empáticas

PAS costumam “mergulhar fundo” nas relações interpessoais. Elas sentem mais, sofrem mais e se desgastam mais na vivência dos relacionamentos. Para muitas PAS delimitar-se dos demais é o grande desafio das suas vidas e elas passam boa parte do tempo carregando a dor, a preocupação ou mesmo o simples aborrecimento das pessoas próximas, como se fossem seus. E a empatia constante, seja consciente ou inconsciente, é exaustiva à longo prazo.

 

  • Elas são perfeccionistas

Como provavelmente você já sabe, as PAS costumam ser muito atentas aos detalhes e ter talento para detectar erros. Essas habilidades podem, facilmente, nos levar ao que eu chamo de esgotamento do perfeccionismo. Procurar fazer as coisas da melhor maneira possível é, sem dúvida, um comportamento positivo, porém deixa de sê-lo quando produz tensão e esgotamento desnecessários. Afinal, sempre chega um ponto em que as melhorias introduzidas não afetam verdadeiramente a qualidade do resultado. E, sobretudo pense o quanto é perigoso extrair seu sentido de valor do inatingível ideal da perfeição.

 

E então, qual é a solução?

(Alerta de spoiler: Não existe a solução perfeita.)

 

Antes de qualquer coisa é importante entender que o autocuidado diz respeito a você e àquilo que (realmente) lhe faz bem. Portanto, o primeiro passo é, logicamente, se conhecer e aceitar suas qualidades e pontos fracos. E ter paciência enquanto aprende e incorpora novos hábitos.  Como inspiração lhe deixo algumas sugestões que, ao longo do tempo, fui incorporando ao meu dia-a-dia e, também, recomendando aos meus clientes.  Espero que elas lhes sejam úteis na sua jornada de autocuidado.

 

  1. Trabalhe no seu autoconhecimento

O primeiro passo é identificar a quais estímulos seu sistema reage de maneira mais intensa. De posse desta informação você se torna capaz de fazer escolhas, criar limites e estabelecer as fronteiras daquilo com que você pode lidar. E lembre-se:  mesmo que sua reação pareça desproporcional em relação à de outras pessoas, ela é verdadeira para você e, portanto, deve ser levada à sério.

 

  1. Estabeleça Limites

Uma vez que você conhece a si mesmo e reconhece que aquilo que está experimentando é real, pode começar a estabelecer limites. Identifique aquilo que lhe afeta negativamente e coloque limites em relação à sua exposição a estas coisas: o que é demais para você? que relações não são saudáveis?  como você pode limitar sua exposição àquilo que sente como tóxico?

Observação: Não há necessidade de se desculpar pelos seus limites. Aliás, quanto mais você se justifica, mais enfraquece a sua posição e abre espaço para que a outra pessoa tente forçar os seus limites. Simplesmente seja claro(a) sobre quem você é e o que está ou não está disposto(a) a fazer. Não há necessidade de se explicar. Um simples “lamento, mas não posso“, dito com firmeza, costuma ser o mais eficaz.

 

  1. Coma comida de verdade.

Para ter energia seu corpo precisa receber a quantidade adequada de nutrientes. E a maior parte deles devem vir dos alimentos. Isto é óbvio, não é? Mas eu lhe pergunto: você está atento(a) ao obvio? Presta atenção aos alimentos que consome? Ou baseia grande parte de sua alimentação em estimulantes (como café e açúcar) e fast food? Comer alimentos de verdade lhe ajudará a aumentar seus níveis de energia de forma natural. Preste atenção também à maneira como se alimenta. Você se mantém presente para a refeição, fazendo deste momento, uma pausa para sua autoconsciência e bem-estar ou engole algo apressadamente, ingerindo preocupações e ansiedade juntamente com a comida?

 

  1. Beba mais água.

É bem provável que você beba menos água do que precisa. Muitas pessoas esperam para beber água quando têm sede, mas a sede já é um sinal de que estamos com uma baixa quantidade de água no organismo. Nosso cérebro é composto de cerca de 80% de água e uma queda de apenas 5% no volume de água no corpo leva a uma perda de aproximadamente 30% na capacidade de desempenho do cérebro. Além disso não beber água suficiente reduz a velocidade da atividade das enzimas gerando fadiga. E, como nosso corpo não armazena água é fundamental repormos a hidratação perdida, através da ingestão de líquidos.

 

  1. Invista na rotina

Eu sei que, para uma cultura viciada em hiperestimulação como a nossa, a rotina parece uma coisa chata. Mas, deixe-me lhe dizer uma coisa: decidir cansa, simples assim. E é claro que cansa muito mais uma PAS, que tende a analisar com profundidade todas as opções e suas consequências na tentativa de evitar tomar a decisão “errada”. Existe uma coisa chamada “fadiga de decisão”, o que significa que o nosso cérebro tende a ir se cansando do processo de decidir ao longo de um dia. Com isso, a qualidade das nossas decisões tende a decair ao longo de um determinado período. Por isso quanto mais rotinas você estabelecer para o seu cotidiano, menos decisões terá que tomar e menos cansado(a) se sentirá ao final do dia.

 

  1. Crie espaços em branco

Dê a si mesmo(a) algum espaço: Algum silêncio. Alguma quietude. Algum tempo desestruturado, não comprometido com obrigações. Este tipo de espaço é essencial para as pessoas altamente sensíveis porque nos dá tempo para digerir, integrar e processar nossas experiências. Quando criamos um tempo vago em nossa vida, permitimos que nossas mentes descansem e que nossa energia se restabeleça naturalmente.

 

Estas são apenas algumas das maneiras pelas quais o autocuidado pode ser incorporado à sua vida. Adapte-as à sua realidade ou crie as suas próprias estratégias. O importante é aprender a amar-se o suficiente para cuidar bem de si mesmo(a).

 

É claro que nem sempre podemos cuidar de nós mesmos com toda esta dedicação. Momentos de mais demandas e de mais estresse ocorrem na vida de todos nós. Por isso é mesmo é muito importante buscar um equilíbrio. Mesmo que não possa atender as necessidades do seu corpo num dia (ou semana) mais corrido, programe-se para criar o seu tempo de recuperação assim que for possível. Pense nisso como uma estratégia de sustentabilidade.

 

E, para que você possa conhecer mais estratégias de autocuidado, deixo abaixo o meu presente deste mês: as “10 dicas do dr. Ted Zeff para o autocuidado PAS”, um ótimo ponto de partida para o seu novo estilo de vida.

 

Clique neste link para baixar 

 

Um grande abraço e até o próximo mês

 

Beijos e bênçãos

 

 

 

 

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