“Não aguento mais, acho que vou explodir!”: Alta sensibilidade e saturação.

“Não aguento mais, acho que vou explodir!”: Alta sensibilidade e saturação.

02/09/2017 artigos Rosalira Oliveira

 

saturação no trabalhoTalvez você estranhe este título. Talvez não saiba muito bem o que vem a ser saturação. Mas se você é uma pessoa altamente sensível provavelmente conhece essa sensação de que não pode lidar com mais nada e que a mais pequena coisa pode lhe fazer explodir. Este é o estado que chamamos saturação, uma condição perigosa e infelizmente bastante comum na vida das pessoas com alta sensibilidade

 

Como sabemos, uma das características central das PAS é possuirem um sistema nervoso bastante reativo. Seus sentidos atuam de maneira amplificada e, por conta disso, elas estão constantemente recolhendo e absorvendo informação extra do seu meio ambiente e das pessoas no seu entorno, mesmo sem estarem conscientes deste fato. Atuam como se fossem verdadeiras “esponjas” absorvendo tudo o que está no “ar”. Em consequência, se esgotam mais rapidamente do que as pessoas com sensibilidade média e podem chegar a colapsar seu sistema nervoso, passando por períodos, mais ou menos longos, nos quais se sentem como se a sua energia tivesse sido drenada e se vêem às voltas com uma grande exaustão física, emocional e mental.

 

A saturação ocorre quando o nosso cérebro simplesmente não consegue mais absorver informação, geralmente como resultado de ter captado uma grande quantidade de estímulos maior do a que que consegue processar adequadamente. É como se a “esponja” estivesse tão encharcada que não apenas não consegue absorver mais nada, como também começa a “vazar” e a perder informação.  

 

A partir deste ponto muitas coisas podem acontecer: que fiquemos esgotados, sem energia para as atividades cotidianas; que estejamos cronicamente irritados, reclamando por tudo e por nada; que fiquemos ainda mais emocionais, chorando à toa; que não consigamos conciliar o sono ou que, pelo contrário, tenhamos sono em demasia; que tenhamos vontade de fugir, de desaparecer… Todas estas reações nos tiram o equilíbrio e tornam a vida bastante difícil, tanto para nós quanto para as pessoas com quem convivemos.

 

Afinal, o que nos satura?

 

Como já disse antes, a saturação é uma condição comum entre as pessoas altamente sensíveis e que, infelizmente, nem sempre é percebida e tratada com o cuidado que requer. Muitas PAS, ainda que percebam um certo mal-estar, tendem a ignorar os avisos da mente e do corpo e a seguir vivendo uma rotina estressante (com muitos estímulos, interação social e excesso de atividades), até o momento em que simplesmente “desabam” e não conseguem mais prosseguir.

 

Algumas das situações que podem nos levar à hiperestimluação e à saturação são bastante conhecidas. Entre elas está o excesso de informação sensorial provocada por coisas como trânsito congestionado, aglomeração de pessoas, locais barulhentos, luzes brilhantes, cheiros fortes, etc. Estas são situações comuns que, no limite, podem saturar a qualquer pessoa, ainda que as PAS cheguem mais rapidamente a esta condição. No entanto nós PAS podemos ficar hiperestimuladas por coisas relativamente simples que não parecem significativas para as demais pessoas ou que, até mesmo, passam despercebidas. Estas podem incluir sutilezas no ambiente: alguns graus de mudança na temperatura, um cheiro químico muito fraco ou contradições na comunicação interpessoal. 

 

Outro agravante decorre do fato de que quanto mais cansados(as) estamos mais reativos nossos sentidos se tornam e, portanto, mais rapidamente chegamos ao ponto de saturação.  Vejamos o exemplo de Felipe, uma PAS que enfrenta profundas dificuldades para se concentrar no seu ambiente de trabalho, uma sala grande que divide com mais quatro companheiros. Diz ele:

 

“Carolina é fumante. Claro que não fuma na sala, mas sempre traz com ela o cheiro do cigarro. E se há uma coisa que me incomoda é o cheiro do cigarro. Jaime é nervoso, está sempre mexendo alguma parte do seu corpo, uma perna, um pé, um braço…  Diz que isso o ajuda a pensar e a se concentrar. Ele se senta bem em frente à minha mesa e eu percebo cada um dos seus movimentos. Faço um esforço para não reparar, mas não consigo. E, por fim, a terceira Laura. Ela não me incomoda em nada, mas frequentemente apanha um resfriado e imagina os ruídos que faz, tossindo e assoando o nariz o tempo inteiro. Eu gosto do meu trabalho e me dou bem com meus colegas, mas não aguento mais esta situação…

 

A estória de Felipe, contada pela coach e escritora Karina Zeggers de Bejil, é um exemplo extremo pois apresenta o caso de uma PAS cujos sentidos já estão hipersensibilizados. Entretanto, é bastante ilustrativa da maneira como uma pessoa com alta sensibilidade simplesmente assimila mais informações do seu meio ambiente e do modo como esse processo vai esgotando o a capacidade de resposta do seu sistema nervoso.  

 

Mas não são apenas os estímulos provenientes do meio ambiente que podem nos conduzir ao estado de saturação. Podemos também ficar excessivamente estimuladas por nossos próprios pensamentos ou pelas expectativas que colocamos em nós mesmos. É aqui que entra a armadilha do perfeccionismo. Muitas pessoas altamente sensíveis apresentam tendências perfeccionistas, o que em si não é, necessariamente, algo negativo. Significa apenas que tentam fazer tudo da maneira mais correta possível. Quando essa tendência deixa de ser algo positivo para se tornar um gatilho para o estresse e a saturação? Diante de circunstâncias inesperadas, quando temos que dar respostas rápidas ou, principalmente, quando a nossa insegurança e baixa autoestima nos levam a revisar compulsivamente um trabalho em busca da mais imperceptível das falhas.  É importante perceber que nos dois casos é nossa atitude mental que cria a hiperestimulacao e a consequente saturação.saturação e estresse

 

A melhor maneira de evitar esse tipo de situação é buscar viver com maior consciência da nossa energia e assumir a responsabilidade de gerenciar o nosso cotidiano, levando em consideração o traço da alta sensibilidade.  Isso implica, sobretudo, prestar atenção ao seu corpo e sua mente para identificar os sinais de alerta e reconhecer a necessidade de descanso, tanto físico quanto sensorial e emocional. Embora não sejamos todos iguais é possível identificar alguns dos  sinais de sobressaturação, entre eles:  

 

  • Dores pelo corpo  
  • Tensão muscular
  • Irritabilidade
  • Mãos/pés frios
  • Roer as unhas
  • Fumar/beber demais
  • Comer demais/deixar de comer
  • Ataques de choro ou de raiva
  • Falta de disposição /cansaço
  • Pressão alta
  • Herpes labial

 

Preste atenção a estes sinais, sobretudo quando se repetem e se tornam algo corriqueiro na sua vida. Sei que o “mundo” é exigente, mas é importante que você se cuide para evitar problemas maiores. O estresse crônico adoece e isso não é brincadeira.

 

Dá pra evitar?

 

A resposta a esta pergunta é não. E também sim. Não podemos mudar o mundo para que se torne mais adaptado ao nosso nível ótimo de estimulação. Mas sim, podemos reconhecer e respeitar nossa alta sensibilidade e assim desenvolver maneiras novas de lidar com o excesso de estímulos.  Adaptar seu estilo de vida e gerenciar os estímulos de forma a prevenir a saturação deve ser um dos cuidados essenciais para uma pessoa altamente sensível que pretende viver a sua sensibilidade de maneira equilibrada. Algumas sugestões:

 

  • Desenvolva estratégias para reduzir sua exposição aos estímulos do ambiente: Examine a sua rotina e pergunte-se o que você pode fazer para ser menos “bombardeado(a)” por estímulos agressivos no seu dia-a-dia. Use fones de ouvido para bloquear o ruído exterior;  descubra um caminho mais tranquilo para ir ao trabalho; procure uma hora menos movimentada para ir ao supermercado ou  um restaurante menos congestionado para o seu almoço, etc.

 

  • Evite os estimulantes: Seu sistema nervoso já está sobrecarregado. Portanto, evite estimulá-lo ainda mais com substâncias como cafeína, açúcar e outras que a médio prazo vão exaurir suas reservas de energia.

 

  • Faça pausas: Use o horário de almoço para afastar-se do barulho do ambiente; Planeje “mini-retiros” semanais e, se possível, um retiro mais longo uma vez por mês, para descarregar seu sistema.

 

  •  Ande: Um dos métodos mais simples e baratos para reduzir a estimulação é caminhar, de preferência num espaço verde.  Enquanto anda, tente estar atento(a) aos seus sentidos prestando atenção àquilo que está acontecendo ao seu redor.

 

  • Desacelere: A hiperexcitação tende a nos deixar ansiosos. Por sua vez, a ansiedade tende a nos deixar acelerados, gerando uma espécie de circuito: ansiedade/aceleração/saturação/esgotamento. A melhor maneira de interromper este circuito é desacelerar. Experimente digitar a uma velocidade menor, fazer uma pausa antes de responder durante uma conversa, comer com atenção ao invés de simplesmente engolir a comida, etc.

 

  • Medite: Nada restaura tanto a sua mente quanto o silêncio e a meditação. O estado de relaxamento profundo provocado pela meditação aumenta a concentração dos neurotransmissores associados a sensação de prazer, motivação e energia, ao mesmo tempo que diminui a presença dos hormônios associados ao estresse.

 

Estas são apenas algumas práticas que podem ser incorporadas ao seu cotidiano para gerar mais tranquilidade e paz interior. São cuidados simples que dependem sobretudo de duas coisas. A primeira delas é consciência. É necessário estar consciente para perceber quem você realmente é: quais são as suas reações, quais as coisas que lhe fazem bem e quais aquelas que simplesmente drenam sua energia.

 

A segunda coisa, e talvez mais difícil, é aprender a se autocuidar. As PAS costumam ser grandes cuidadoras, mas tendem a não cuidar tão bem de si mesmas. Com isso, a tarefa do autocuidado torna-se um verdadeiro desafio para a maioria de nós.  Autocuidado implica em fazer de nós mesmos nossa prioridade. E isto não é fácil. São necessários muitos aprendizados: aprender a reservar tempo para nós mesmos, aprender a impor limites aos demais, aprender a dizer não quando necessitamos, aprender a permitir que os outros encarem seus próprios problemas…. Enfim, autocuidado é lição de autoestima. Algo a que sempre precisamos estar atentos.

 

Se você sentir que precisa de ajuda para rever sua rotina e avançar na direção do autocuidado, entre em contato comigo. Talvez um percurso de coaching possa ajuda-lo(a) a caminhar nessa direção.

 

Beijos e bênçãos,

 

Rosalira

 

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Sobre o autor
Rosalira Oliveira Sou coach com formação em coaching ontológico e especializada em alta sensibilidade. Fiz minha transição recentemente, quando encerrei meu ciclo como pesquisadora e doutora em antropologia cultural e tornei-me criadora do “Ame sua sensibilidade”, um programa de coaching destinado a ajudar as pessoas altamente sensíveis a compreender e integrar em essa sua característica, de modo a viver uma vida com mais felicidade e significado.

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