Altamente sensível e a armadilha do perfeccionismo

Altamente sensível e a armadilha do perfeccionismo

15/08/2016 artigos Rosalira Oliveira

mulher altamente sensível e perfeccionismo“Feito é melhor que perfeito”, diz o dito popular.  Confesso que, passados anos desde que ouvi esta frase pela primeira vez, continuo em luta com a sua sabedoria. Sempre que tento algo novo sou acompanhada pela voz do meu crítico interior me dizendo que “ainda não estou pronta”, que “preciso me preparar mais”, e outros conselhos bem-intencionados.  Se lhe dou ouvidos, entro numa busca infindável por mais um livro, mais um curso, mais uma palestra, mais horas de estudo… algo que me dê, enfim, a segurança de estar perfeitamente preparada para encarar o desafio.

 

O problema é que nessa preparação eterna corro (corremos?) o risco deixar a vida passar sem vivê-la plenamente. Sempre olhando da arquibancada e nunca me sentindo apta a participar do jogo. Não estou sozinha nesse desafio. O perfeccionismo constitui um traço comum às pessoas altamente sensíveis e muitos de nós sofremos com ele. Queremos ser perfeitos em tudo o que fazemos: nossas relações pessoais, nosso trabalho, nossa casa, nossa aparência, etc.

 

Este esforço para fazer sempre o melhor possivel costumar estar relacionado à algumas das qualidades que acompanham a alta sensibilidade, tais como: a atenção aos detalhes; o cuidado com a execução de cada tarefa e nosso amor pela beleza e pela harmonia, que queremos manter nas nossas tarefas e no nosso entorno. E, sobretudo, ao fato de que somos, de modo geral, pessoas conscienciosas e muito atentas às próprias responsabilidades, uma característica que costuma ser bastante valorizada pelas pessoas que nos rodeiam.

 

Então por que falar em “armadilha do perfeccionismo”? Para explicar, seria útil distinguir entre o desejo de fazer as coisas bem-feitas e a obsessão de querer fazer tudo perfeito, sem falhas. Não há nada de errado em querer fazer bem as coisas, dar o melhor de si mesmo, buscar superar-se. O problema começa quando esse desejo passa a consumir nosso tempo e pensamentos, tirando o espaço de outras coisas na vida. Será este é o seu caso? Para verificar se está caindo nesta armadilha, faça um pequeno teste e responda com honestidade as seguintes questões:

 

  • Você revisa várias vezes um trabalho já concluído?
  • Se sente tenso/a ou angustiado/a quando se equivoca (ou diante da possibilidade de cometer um erro)?
  • Tem dificuldade para relaxar antes de conseguir terminar uma tarefa?
  • Deixa de participar de atividades novas (mesmo que lúdicas como um jogo, uma nova dança ou algo do tipo) porque acha que vai cometer erros e se sente envergonhado? 
  • Tende a negligenciar o lazer e as pessoas queridas por conta da excessiva dedicação às tarefas, e acaba por viver uma vida feita quase totalmente de obrigações?
  • Sente dificuldade em aceitar uma surpresa ou  imprevisto, mesmo que se trate de uma coisa boa? 
  • É muito crítico, não apenas em relação a si mesmo, como também aos demais: filhos, conjugue, colegas de trabalho, etc?

 

Se você respondeu sim à maior parte das perguntas, é mais do que provável que esteja preso(a) à busca da perfeição. Sair desta armadilha é uma tarefa difícil para as PAS. Isto ocorre porque o perfeccionismo se alimenta de algumas outras tendências as quais somos mais vulneráveis, tais como: preocupar-se em demasia com a opinião alheia; ter medo de cometer erros; de ser criticado e se sentir exposto; ter baixa autoestima, entre outras.

 

Na verdade, podemos pensar nestas tendências como sendo o “outro lado” das qualidades mencionadas no início desse artigo. Existe, por exemplo, uma relação bastante clara entre a preocupação com os detalhes e o medo de cometer erros, ser criticado ou fazer um papel ridículo. Ao nos prepararmos obsessivamente, buscando dar conta de todos os detalhes, estamos (ou pensamos que estamos) nos protegendo de todos os possíveis erros e críticas, reais ou imaginários.  

 

ser altamente sensível e perfeccionistaA inatingível perfeição

 

A palavra “perfeito” vem do latim e significa que algo está tão bem feito que é impossível melhorá-lo.  Bastaria esta reflexão sobre a palavra e seu significado para percebermos que se trata de algo inatingível, uma ilusão. Nada no mundo estará tão bom ao ponto que não exista mais espaço para o seu aperfeiçoamento. Esperar a perfeição para iniciar algo é uma armadilha que nos paralisa num estado de não vida.  

 

Então como fazer? Penso que um bom ponto de partida se encontra na palavra acima: “aperfeiçoamento”. Ao contrário da perfeição, que é estática, o aperfeiçoamento é dinâmico. É um processo de aprendizagem onde sempre há lugar para erros e acertos. E é só fazendo algo que nos aperfeiçoamos naquilo. Não há outro caminho.

 

Aprender significa errar. E aceitar o erro pelo que ele é: um feedback, uma informação a respeito do nosso desempenho. Pense em todas as coisas que você aprendeu a fazer. Em todas elas, os erros fizeram parte do aprendizado servindo como indicativo daquilo que você deveria melhorar. Só para lembrar, foi caindo que você aprendeu a andar!

 

Outro ponto importante é revisar suas relações com os outros e, sobretudo, com você mesmo. Não é necessário ser perfeito para ser amado. Não é necessário ser sempre bem-sucedido para ser amado. Cada um de nós possuí um valor intrínseco, independente do “sucesso” ou do “fracasso” externos. Observe as suas relações com os outros. Você permite que as pessoas próximas vejam suas fraquezas e imperfeições ou exibe sempre uma máscara de perfeição? Você recebe elogios com naturalidade ou fica pouco à vontade e tenta diminuir o valor daquilo que fez? Observe seu diálogo interior. Você chama a si mesmo de “burro” ou “incompetente” quando comete um erro? Você sente que nunca está “à altura” de um padrão de excelência que você mesmo estabeleceu? Cuidado. Todos estes pensamentos/sentimentos são indícios da atuação dos sabotadores, seja o crítico interior, o juiz implacável ou outro. Investigue-os e reconheça-os. Seu poder diminui significativamente quando são trazidos à luz da consciência.

 

Por fim, me parece igualmente importante largar a ilusão do controle. A vida é maior do que nossos planos e sempre haverá algo novo ou inesperado em nosso caminho. E se é verdade que nós PAS temos que lutar com a armadilha do perfeccionismo, também é verdade que temos uma intuição poderosa que sempre nos ajudará a saber como agir, desde que sejamos capazes de prestar atenção à nossa voz interior.

 

A busca da perfeição é uma ilusão, uma quimera que pode nos prender na armadilha de uma vida inautêntica. Sustentar o ideal de perfeição tem um custo muito alto. O esforço para parecermos perfeitos aos olhos dos outros nos impele a criar uma persona que oculta (e, por vezes, asfixia) nosso eu verdadeiro. Também cria uma tensão em nosso interior que nos esgota na tentativa de sustentar a performance. Assumir nossa imperfeição, por mais assustador que pareça, traz muitas recompensas, como o reconhecimento do nosso valor intrínseco, a possibilidade de construir relações mais verdadeiras e a capacidade de, simplesmente, desfrutar a vida. Para finalizar, gostaria de lhe dar algumas dicas simples, mas que podem ser bastante úteis para lidar com perfeccionismo:

 

  • Mude o seu objetivo: saia do “perfeito” para o “bem-feito”,
  • Conscientize-se que todos os adjetivos estão na sua mente (são avaliações subjetivas).
  • Aprenda a aceitar elogios
  • Elogie a si mesmo
  • Faça uma lista dos seus sucessos e das suas qualidades  
  • Tenha em mente o ditado popular: feito é melhor que perfeito

 

Estas são recomendações genéricas aplicáveis a qualquer pessoa. Entretanto, se a pressão para ser perfeito/a lhe preocupa e você gostaria de trabalhar mais profundamente esse tema, se informe a respeito do Programa Ame Sua Sensibilidade, onde você poderá trabalhar junto comigo este e outros temas relacionados a alta sensibilidade.

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Sobre o autor
Rosalira Oliveira Sou coach com formação em coaching ontológico e especializada em alta sensibilidade. Fiz minha transição recentemente, quando encerrei meu ciclo como pesquisadora e doutora em antropologia cultural e tornei-me criadora do “Ame sua sensibilidade”, um programa de coaching destinado a ajudar as pessoas altamente sensíveis a compreender e integrar em essa sua característica, de modo a viver uma vida com mais felicidade e significado.

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