Alta sensibilidade e o diálogo interno: Ah, essas vozes que nunca calam!

27/08/2018 artigos Rosalira Oliveira

diálogo internoOk, eu sei que o diálogo interno (seja ele considerado positivo ou negativo) não é exclusividade das pessoas altamente sensíveis. Todos nós temos estas vozes na nossa cabeça que quase nunca se calam e estão sempre a comentar os acontecimentos da nossa vida. Ocorre que no caso das  PAS, a própria  tendência a processar toda informação em profundidade (que como já sabemos constitui uma das quatro características essenciais do traço da alta sensibilidade) pode fazer com que este falatório mental siga vezes sem conta se convertendo em uma verdadeira tortura: “Não consigo parar de pensar sobre o que aconteceu.”; ”Eu sempre acabo me dizendo as mesmas coisas,” ou “Não paro de me culpar por este erro.” …  São frases que ouço com frequência em meus atendimentos de coaching.

 

Mas, o que é mesmo esse diálogo interno?

 

Diálogo interno é aquela conversa mental que todos mantemos constantemente em nossa cabeça, de maneira silenciosa. E não há nada de errado com isso, já que o diálogo interno é uma parte normal, importante e valiosa do nosso processamento interior. Todos necessitamos refletir sobre aquilo que vivenciamos a fim de poder integrar essa vivência em nossa experiencia de vida.  Acontece, porém, que esta reflexão não é neutra e muito menos objetiva, ela é profundamente influenciada por fatores subjetivos como nossas experiencias passadas, nossas crenças, nossa autoestima e por aí vai. Mais ainda, o diálogo interno não apenas é influenciado pelas nossas atitudes mentais como também as influencia, moldando a forma como vemos o mundo e a nós mesmos. Por conta disso, a maneira como falamos conosco decide, em grande parte, se vamos ter uma autoestima maior ou menor.

 

Percebeu a importância de olharmos com atenção para esta nossa conversação mental? Para fazer isso, imagine o seu diálogo interno como um transmissor de rádio. Que tipo de ondas ele capta? Aquelas com as quais você está mais sintonizado/a, que melhor correspondem à sua maneira de ver o mundo. É aí que as PAS começam a ter (grandes) problemas. Além da profundidade de processamento sobre a qual falei acima, algumas outras características associadas ao traço nos predispõem a um diálogo interno predominantemente negativo. Entre elas eu destacaria:

 

  • O perfeccionismo – que julga sempre o nosso desempenho considerando-o insuficiente e nos leva a um diálogo interior repleto de críticas, tanto em relação a nós mesmos quanto em relação aos outros.
  • A tendência a julgar as outras pessoas de acordo com os nossos próprios valores e com uma definição – pessoal e muitas vezes bastante estrita – do que é “certo” e do que é “errado”
  • A tendência a nos compararmos com os demais e a julgar-nos inferiores.

 

Combinadas, estas tendências nos mantêm presos a um tipo de diálogo interno autocrítico que pode nos paralisar, além de gerar muita angústia e ansiedade. Se você já se pegou repetindo frases do tipo: “Sou muito burro/a”,” “Eu nunca aprendo” ou ainda ““Sempre faço tudo errado”, sabe exatamente do que eu estou falando.

 

Acontece que estas mensagens não são realmente “suas”. Ainda que você (ou eu) as tenhamos “instaladas” em nossa mente, são apenas padrões de pensamento automatizados que aprendemos em algum momento da nossa vida e que continuam influenciando nosso comportamento até hoje. Cada um de nós tem seu próprio “estilo explicativo”, uma maneira de pensar que explica as causas das coisas que acontecem em nossas vidas. Desenvolvemos o nosso estilo ou padrão de pensamento durante a infância e, a menos que sejam tomadas medidas no sentido de mudá-lo, ele continuará atuando, de maneira subjacente, ao longo da nossa vida.

 

O padrão age como um prisma através do qual explicamos a nós mesmos o porquê das coisas acontecerem, sejam elas boas ou más. Cada vez que alimentamos este tipo de pensamento excessivamente autocrítico estamos desenhando uma realidade coerente com eles.  Quando não os identificamos pelos que são – padrões automatizados – e acreditamos neles como sendo nossa “verdade”, estamos criando obstáculos que nos impedem de realizar nosso verdadeiro potencial e afetam nossa autoestima. É a tal profecia que se autorrealiza.

 

Além do impacto sobre nossa autoestima e autoconfiança, esse falatório mental constante nos traz muitos outros prejuízos:

 

  • Consome muita energia – nos deixando esgotados no afã de pretender prever a vida ao invés de vive-la.
  • Nos afasta do presente, levando-nos a viver no passado – rememorando o que não deu certo – ou no futuro – antecipando problemas.
  • Dificulta a concentraçãoexigindo mais esforço para realizar nossas tarefas e nos tornando menos produtivos.
  • Cria um “ruído mental” constante em nossa cabeça, o que aumenta o nosso nível de estresse.
  • Constrói uma autoimagem dissociada da realidade, tanto em relação aos nossos talentos (que tendem a ser subestimados) quanto às nossas debilidades (que tendemos a supervalorizar)
  • Dificulta e, por vezes, nos impede de tomar de decisões.

 

Como sair desta armadilha? É possível calar essas vozes?

 

Penso que, ao menos para nós simples mortais, a resposta é não. Não é possível interromper o nosso diálogo interno e nem sei se seria desejável, já que como disse é através dele que processamos e integramos as experiências vividas. Em minha opinião, trata-se muito mais de estarmos atentos à qualidade das nossas conversas mentais e de aprendermos a criar momentos de tranquilidade e clareza em nossas mentes.

 

Para isso:

 

  1. Observe o conteúdo do seu diálogo internoDe modo geral, não estamos acostumados a nos deter para prestar atenção ao nosso diálogo e analisar o seu conteúdo. Se começarmos a fazer esta observação vamos nos dar conta que a maior parte dele é negativa e tem efeitos danosos no nosso humor e disposição. Atenção: Não julgue os seus pensamentos, apenas observe-os. Negativo ou positivo neste contexto referem-se apenas à maneira como estes pensamentos lhe fazem sentir-se: se lhe trazem prazer ou desconforto emocional.
  1. Anote as mensagens negativas ou autocríticasTire um dia para estar atento/a à estas mensagens e anote-as. Identifique a maneira como fala consigo mesmo/a (isso inclui não apenas as palavras, mas também o tom em que elas são “ditas”). Repare como essa “voz” tende a transformar as situações em catástrofes.
  2. Questione o pensamentoQuando se perceber dizendo-se algo do tipo “eu sempre faço tudo errado”. Pare e pergunte a si próprio se isso é verdade. É claro que você, por vezes, comete erros. Mas será verdade que sempre erra? Que nunca faz nada certo? Pense em todas as coisas úteis que consegue fazer ou já realizou no passado.
  3. Aprenda a ser gentil consigo mesmo/aPense o seguinte: se você falasse com as outras pessoas, com seus amigos da mesma forma que você fala consigo nessa conversa interior. será que ainda teria algum amigo? Provavelmente não, não é?  Então o que lhe leva a dar a si mesmo(a) um tratamento tão severo e desrespeitoso?  Trate-se com mais carinho e verá como começará a sentir-se mais satisfeito consigo e com a sua vida.
  4. Faça um “jejum de críticas” – Crítica e autocrítica costumam andar juntas, uma vez que fazem parte do mesmo padrão julgador. Quem se julga de forma muito rigorosa tende a fazer o mesmo em relação aos outros. Tire um dia para tornar-se consciente dos julgamentos mentais que você faz a respeito das outras pessoas. É claro que eles ainda acontecerão e quando você se perceber julgando (e condenando) os demais, apenas diga a si mesmo/a “cancela”. Com o tempo, o padrão irá afrouxando e você se sentirá mais tranquilo/a.
  5. Aprenda técnicas para acalmar a mente: Desligar o falatório constante daquilo que algumas tradições budistas chamam “a mente macaco” não é uma tarefa fácil para nós ocidentais. Porém um pequeno esforço neste sentido pode nos trazer um grande ganho em tranquilidade e produtividade. Uma das coisas que eu pratico e recomendo aos meus clientes é repetir um mantra como forma de interromper a “corrida de pensamentos”. Existem várias outras maneiras de acalmar a mente hiperativa: meditar, concentrar-se em um dos sentidos, mudar a postura corporal, etc. Pesquise, encontre a forma que melhor funciona para você e pratique.
  6. Saia da cabeça e volte para seu corpo: Pratique algum exercício físico, de preferência algo que lhe obrigue a estar presente no seu corpo: dança, natação, yoga, artes marciais, etc. Qualquer atividade que lhe permita vivenciar a integração corpo-mente é um poderoso antídoto contra a nossa tendência a nos perder dentro dos nossos pensamentos.
  7. Aja! Agir é o que mais profundamente desafia as vozes que vivem dentro da sua cabeça. Se você se decide a pagar para ver e se recusa a permanecer sentado/a lamentando o que passou ou com medo do que pode acontecer, verá, que aos poucos, sua autoconfiança irá aumentando e o seu diálogo interno começa a se modificar. Como costumo dizer a meus clientes, a vida é ação e, por mais reflexivas que nós PAS sejamos, não podemos vivê-la dentro de nossa mente.

 

Claro que, como em qualquer processo de mudança, alterar a qualidade do seu diálogo interno não será algo que você conseguirá fazer da noite para o dia. É uma maratona e não uma corrida de 100 metros rasos. Por isso seja benevolente consigo mesmo/a e se coloque numa atitude de “aprendiz da vida”. Talvez seja interessante utilizar um diário para ir registrando os seus pensamentos autocríticos e escrevendo em seguida um pensamento mais realista sobre você e suas qualidades. Um pensamento que apoie o seu desenvolvimento como pessoa e lhe inspire a ser um pouco melhor a cada dia.

 

E se você quiser ajuda para lidar com o seu diálogo autocrítico, conheça o meu trabalho de coaching. Talvez possamos trabalhar juntos neste tema.

 

E se quiser saber mais sobre o traco da alta sensibilidade e aprender técnicas para lidar com as características mais difíceis, visite a Plataforma da Udemy e assista às aulas gratuitas do meu curso online “Alta sensibilidade e você: conheça e aprenda a lidar” 

 

Beijos e bênçãos,

 

 

 

 

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