Você acha que pode ser uma pessoa altamente sensível e quer saber mais sobre o assunto?…
Afinal, quem tem as rédeas da sua vida? A alta sensibilidade e os sabotadores
Você foi chamado(a) para uma entrevista de emprego ou precisa apresentar um trabalho na faculdade. Mesmo dominando o conteúdo, um alarme dispara na sua cabeça e um filme de terror começa a passar na sua mente: você se vê falhando miseravelmente, incapaz de articular as palavras ou de formar frases que façam algum sentido. Na hora H, já está tão nervoso(a) que mal consegue entender as perguntas que lhe são feitas e fala tão baixo que se torna difícil escutar o que você diz. Ao terminar a apresentação você inicia um outro diálogo mental no qual se recrimina violentamente pela má atuação, a qual, a seu ver, só serviu para comprovar sua insegurança e sua dificuldade para se expressar em público, coisas que você tem certeza jamais vão mudar.
Isto lhe soa familiar? É provável que sim, porque a cena que acabo de descrever constitui um exemplo clássico da atuação dos sabotadores, mais especificamente do mais universal deles: o Crítico interior. Mas o que são sabotadores? E porque o Crítico é o mais universal de todos?
Para começar a conhecer essas figuras, podemos dizer que os sabotadores são um conjunto de padrões mentais e emocionais automáticos e habituais – que com suas vozes, crenças e suposições – nos levam a comportamentos inconscientes de autossabotagem. Uma boa maneira de identifica-los é separá-los por categorias. Por exemplo, que lhe parece o Insistente/Perfeccionista? Muitas PAS conhecem bem essa vozinha interior que costuma aparecer sempre para nos fazer notar que aquilo que estamos fazendo não está “bem-feito” (de acordo, claro, com o seu altíssimo padrão de julgamento) e que está sempre exigindo medidas extras de trabalho e de melhoramentos em tudo que fazemos, nos esgotando nesse esforço de busca de um objetivo inatingível.
Outros sabotadores comuns entre as pessoas com alta sensibilidade são: O Hipervigilante, que nos aflige com aquela eterna sensação de que algo ruim vai acontecer e nos faz viver constantemente em estado de alerta. Ou o Prestativo, que nos leva a viver sempre ajudando os outros mesmo às custas das nossas próprias necessidades. Ou, ainda, o Esquivo, que nos impele a fugir sempre que aparece um conflito na esperança que o problema se resolva sozinho.
Estes são apenas alguns dos sabotadores, aqueles que mais facilmente encontramos em pessoas altamente sensíveis. Para além destes existem outros menos populares entre nós, tais como: o Controlador, que deseja que tudo e todos obedeçam à sua vontade e façam as coisas à sua maneira; o Hiper-racional, que foge de tudo que pareça emotivo demais, se escondendo por trás de uma fachada de cinismo e superioridade intelectual; ou o Inquieto, sempre em busca de novas aventuras e atividades, saltando de um interesse para outro, em busca da sensação de estar vivendo a vida plenamente.
Reconhece alguns deles em você? Espero que sim, pois um dos primeiros passos para lidar com os sabotadores é identifica-los e aprender a dissociar-se deles. É importante perceber que seus sabotadores não são você, mas apenas um modo de pensamento automatizado ao qual você se habituou como uma forma de lidar com determinadas situações. Para isso é necessário estar atento(a) para surpreendê-los no ato: ou seja, perceber a sua atuação no momento mesmo em que ela ocorre. Um dos meus sabotadores mais fortes é o Insistente, que me impede de relaxar, a não ser que todas (eu disse todas) as minhas tarefas estejam devidamente cumpridas. Assim, se me deito no sofá após o almoço, por exemplo, sou imediatamente assaltada pela lembrança das tarefas que estão pendentes. Posso, literalmente, ouvir sua voz na minha cabeça enumerando todas e cada uma delas. Minha reação automática seria levantar-me e ir realizá-las, não importando quão cansada eu estivesse. Agora, presto atenção ao meu pensamento, identifico a voz do Insistente dentro de mim, respiro fundo e digo a mim mesma que cumprirei com minhas obrigações de uma maneira bem melhor se me permitir o descanso que meu corpo e minha mente precisam.
Repare que as palavras-chaves aqui são “reação e automática”. Ao darmos ouvidos a voz do sabotador não estamos realmente fazendo escolhas, mas sim, reagindo a um condicionamento sem refletir sobre a pertinência daquela atitude ou sobre os seus possíveis efeitos em nossas vidas. Este comportamento recorrente, quase inconsciente, constitui uma das principais pistas da atuação de um sabotador.
Outro passo importante para lidar com os nossos sabotadores é compreender que não são nossos inimigos, e que, longe de querer nos fazer mal, seu objetivo é nos proteger e ajudar. Nossos sabotadores são padrões de pensamento e comportamento que criamos como uma maneira de interpretar e lidar com situações dolorosas que vivemos no passado, principalmente durante a infância. E o mais provável é que, neste momento, eles tenham sido úteis e tenham nos ajudado a conviver com aquelas circunstâncias. O problema deriva do fato de que, uma vez instalado o padrão de um sabotador, ele se automatiza e, como um programa de computador, nos induz sempre ao mesmo tipo de reação automática e estereotipada que já não é adequada à vida adulta.
Além de reconhecer e compreender que estas vozes em nossa cabeça não são exatamente “nossas”, mas sim, a expressão de uma programação adquirida durante a infância, o melhor que podemos fazer é estabelecer um diálogo com nossos sabotadores para tranquiliza-los e fazê-los ver que não estamos em perigo. Tentar suprimi-los seria apenas uma maneira de tornar sua ação mais inconsciente, e, com isso, mais difícil de ser reconhecida e encarada. Criticar a si mesmo por possuir um sabotador, ou por se deixar afetar pela sua influência, serve apenas para fortalecer o maior e mais universal de todos os sabotadores: o Crítico interior.
O Crítico e suas mentiras
O Crítico é, sem dúvida alguma, o principal sabotador que acompanha a maioria de nós, sejamos PAS ou não. Sua atuação nos leva a nos sentir negativos e infelizes, através da constante indicação de defeitos seja em nós mesmos; seja nas outras pessoas, seja nas circunstancias da nossa vida. Não importa do que se trate, na sua avaliação nada nunca é bom o suficiente!
O Crítico dentro de nós gera decepção, ansiedade, raiva, arrependimento, culpa, vergonha. É um padrão mental que nos leva a acreditar que precisamos punir, pressionar, criticar e cobrar em excesso a nós mesmos e aos outros, porque senão nada acontecerá “direito”. Ele nos mantém num constante estado de tensão correndo atrás de uma aprovação que jamais nos será concedida. E esta é a primeira das suas mentiras: o padrão de excelência determinado pelo Crítico é inalcançável. Não importa o quanto você se esforce para alcançá-lo, seu Crítico sempre encontrará algo a criticar simplesmente porque esta atitude é condição necessária à sua sobrevivência.
Mas, se é assim porque insistimos em dar ouvidos à voz do Crítico interior? Porque seguimos pela vida reprovando-nos por não estar à altura de um ideal impossível? A resposta, para a maioria de nós, está na segunda mentira do Crítico: aquela que afirma que não somos dignos de amor e de respeito sendo apenas quem nós somos e que precisamos “conquistar” o amor e o respeito das outras pessoas corrigindo constantemente aquilo que há de “errado” em nós, ou ainda, escondendo cuidadosamente as nossas falhas. É essa ideia de amor condicionado que está na base do poder do Crítico sobre nós e nos transforma, simultaneamente, em vítimas e cúmplices da sua tirania.
Por fim, a terceira grande mentira do Crítico é que ele está nos protegendo do fracasso. A verdade é que a tensão e a agitação deflagrada por este padrão de pensamento é, como vimos no exemplo acima, uma receita para o fracasso. Ao invés de ajuda-lo(a) a atuar melhor a preocupação excessiva, induzida pelo Crítico, tende a lhe tirar (ou a reduzir bastante) a concentração e a clareza necessárias para sair-se bem numa situação de desafio. Trata-se de uma profecia autorrealizável que serve muito bem ao Crítico interior, já que contribui para reforçar o mecanismo de autodesvalorização do qual ele se alimenta.
As críticas do Crítico não estão dirigidas apenas a você mesmo. Ele também se dedicar a apontar defeitos (reais ou imaginários) nas pessoas com quem você convive, ou mesmo naquelas que você mal conhece, como artistas e celebridades. O importante para ele é apontar quão insuficientes e erradas estas pessoas são. Agora, imagine o impacto desta perspectiva de desaprovação constante, gerada pelo Crítico, sobre os seus relacionamentos pessoais, familiares e profissionais? Já pensou em quão reativo(a) e intolerante você pode se tornar quando dominado pela sua influência?
Por isso mesmo, vale à pena analisar a maneira como está se relacionando para verificar se o nosso amigo não anda aprontando na sua vida. Claro que todos os relacionamentos têm problemas e nem toda crítica é destrutiva e desagregadora. Como uma forma de perceber a ação do Crítico nas suas relações, observe o seguinte: sempre que você estiver 100% seguro de que está com a razão e que a culpa dos problemas do relacionamento é toda da outra pessoa, existem sérias possibilidades que seu Crítico interior tenha assumido o comando, impedindo você de enxergar a perspectiva do outro.
Mas julgar você mesmo e os outros ainda não esgota o campo de atuação do Crítico. Ele também critica e condena as circunstancias da sua vida. Sabe aquela frase: “Eu só vou ser feliz quando…”? Se você já falou esta frase (e quem nunca?), teve uma demonstração desta faceta do poder do Crítico. Neste caso encontramos novamente as mentiras que sustentam o padrão: a primeira delas é que você não pode ser feliz agora, sendo a pessoa que é e tendo a vida que tem. A segunda mentira se refere ao fato de que este “quando” é um objetivo móvel. Assim que você o atingir – seja ele um novo emprego, um casamento, 10 quilos a menos ou o que for – o sabotador irá criar um novo “quando”, postergando, mais uma vez, a sua felicidade para um futuro, que, na verdade, nunca ocorrerá.
Identificando e aprendendo a lidar
Como dissemos o Crítico é considerado o sabotador universal, que está presente na psique de todos nós. Dele derivam os sabotadores secundários, que atuam como seus cúmplices e criam os nossos “estilos” particulares de autossabotagem. Já apresentei alguns deles mais acima, lembra? O insistente/perfeccionista, o esquivo, o controlador, etc. Identificá-los e reconhecer suas formas de atuação lhe ajudará a perceber a maneira como estes padrões influenciam o seu comportamento e sua visão de mundo. As perguntas abaixo podem lhe ajudar neste trabalho:
- Que comportamentos você apresenta de forma automática e sem pensar? (Refiro-me aquele tipo de comportamento do qual você diz coisas como: “antes que eu parasse para pensar, já havia feito…já havia dito… já havia aceitado…, etc.)
- Como você se comporta em situações de estresse?
- Como você é caracterizado(a) pelos seus amigos? (Frases do tipo “Você sempre age assim” ou “Isso é típico de você”, dão boas pistas de quais sabotadores são mais presentes em você)
Se quiser investigar mais sobre o assunto, você pode ler o livro “Inteligência Positiva: Por que só 20% das equipes e individuos alcancam seu verdadeiro potencial e como você pode alcançar o seu“, no qual o coach Shirzad Chamine apresenta uma tipologia do Crítico e dos sabotadores secundários para ajudálo(a) a identificar os seus padrões. Ou pode, também, responder ao teste disponibilizado no site do autor, seguindo este link:
Entretanto, é preciso lembrar que reconhecer os seus principais sabotadores é apenas parte da tarefa. A outra é aprender a lidar com eles no dia-a-dia. Além das estratégias que discuti acima (dissociar-se e estabelecer um diálogo com os seus sabotadores), considero fundamental aprender a estar plenamente no momento presente. Sem julgamentos e sem antecipações de resultados bons ou ruins. Uma forma de fazer isso é concentrar-se, ainda que por poucos segundos, nas suas sensações físicas. Os sabotadores lhe levam a viver preso dentro da sua mente, girando vezes sem conta o mesmo velho disco. Ao voltar sua atenção para o corpo e suas sensações você interrompe este circuito, causando uma liberação imediata da energia que estava sendo usada pelo sabotador. Experimente! Da próxima vez que o seu Crítico, ou outro sabotador, tentar lhe aprisionar numa das velhas reações automáticas, pare e concentre-se totalmente em um dos seus cinco sentidos. Faça isso por, ao menos 10 segundos, e sentirá um alívio imediato da tensão. Pratique sempre e, aos poucos, tornará cada vez menos potente a voz do sabotador.
Outro antídoto contra a ação dos sabotadores, particularmente do Crítico, é a gratidão. Agradeça pelos aprendizados que seus erros lhe trouxeram, agradeça pelos seus talentos, agradeça pelas coisas boas que estão presente na sua vida neste exato momento, agradeça pelas pessoas que lhe amam por mais imperfeito(a) que você seja… Faça da gratidão uma prática cotidiana.
Sei que não é fácil. Mas também sei que é possível e que o esforço traz grandes recompensas, como menos angústia, mais tranquilidade e mais felicidade. Talvez você possa realizar este trabalho sozinho(a) ou, talvez necessite de ajuda para começar. Se for este o caso, clique aqui e informe-se sobre o meu trabalho de coaching, ou acesse este link para conhecer o Programa Ame sua Sensibilidade. E, se ainda tiver alguma dúvida sobre o coaching ou sobre o meu trabalho, não hesite em entrar em contato comigo, neste link.
Beijos e bênçãos,
Rosalira