Alta sensibilidade não é hipersensibilidade

15/09/2016 artigos Rosalira Oliveira

mulher com hipersensibilidade

Recentemente li uma entrevista da dra. Elaine Aron na qual ela tentava esclarecer alguns equívocos relacionados ao tema da alta sensibilidade.  Isso me fez pensar em um engano bastante comum: a confusão entre alta sensibilidade e hipersensibilidade.  A razão está ligada aquilo que o senso comum entende por “sensibilidade”, que equivale à fragilidade. Assim algumas pessoas tendem a pensar que uma pessoa é "altamente sensível" quando esta se comporta como uma espécie de “flor de estufa”, exigindo tratamento especial o tempo todo.  

 

Esta é uma concepção errônea do que vem a ser a alta sensibilidade, tendo pouco (ou nada)  a ver com a sensibilidade de processamento sensorial (SPS) – a realidade científica responsável pela característica. Em condições normais de temperatura e pressão, uma PAS não é uma pessoa frágil que se “desmancha” diante de qualquer problema. E nem é, tampouco, alguém propenso a fazer cenas dramáticas a todo momento.

 

Aquilo que denominamos "hipersensibilidade", se caracteriza por uma extrema fragilidade e desequilíbrio emocionais. Já a alta sensibilidade é uma predisposição biológica, vinculada ao funcionamento do cérebro e do sistema nervoso central, não tendo uma relação automática com a questão da resistência emocional. Todos nós, sejamos PAS ou não, temos momentos de hipersensibilidade. Mas, a hipersensibilidade emocional crônica, está, de modo geral, ligada à experiências do passado não superadas e à falta de aprendizado sobre a melhor maneira de gerenciar suas emoções.   Portanto, apesar do que você possa ter lido em outros lugares, alta sensibilidade e hipersensibilidade não são a mesma coisa e nem andam, necessariamente, juntas.

 

Um exemplo hipotético pode nos ajudar a compreender melhor essa diferença. Imagine que você está no seu ambiente de trabalho:  O hipersensível seria aquele colega que está sempre se queixando e enxergando ofensas (reais ou imaginárias) na maneira como os demais se relacionam com ele. Já o colega altamente sensível seria aquele que procura a qualquer custo evitar conflitos e faz um grande esforço para que o escritório seja um lugar tranquilo. 

 

Para resumir a questão podemos esquematizar as diferenças entre os dois tipos, lembrando sempre que estamos falando de tendências genéricas e não de pessoas e casos concretos. Dessa maneira podemos dizer que, de modo geral, uma pessoa hipersensível tende a ser:

 

  • Insegura (tendo a tendência a enxergar ofensas e agressões pessoais em comentários e atitudes que não necessariamente apresentam esse teor), 
  • Propensa a fazer uso de ferramentas negativas, como chantagem emocional ou agressão passiva, como forma de lidar com a própria insegurança.  
  • Se ofende com facilidade e tem uma tendência a reagir de forma exagerada.   
  • Apresenta um baixo nível de inteligência emocional para lidar com as outras pessoas e com os desafios do cotidiano

 

Já a maioria das pessoas com alta sensibilidade, quando equilibradas, tendem a:

  • Controlar bem suas emoções.
  • Evitar comportamentos impulsivos (pensar bastante antes de agir)
  • Ter verdadeira aversão a conflitos
  • Apresentar um desenvolvimento inato da inteligência emocional e um alto nível de empatia.

 

Tal como ocorre com qualquer outra predisposição a alta sensibilidade sozinha não determina o comportamento de uma pessoa. É verdade que uma pessoa altamente sensível possui uma emocionalidade intensa e uma grande empatia e isso pode ser uma fonte de sofrimento. Porém preste atenção à palavra que usei “pode”.  Ser uma PAS não condena ninguém à fragilidade emocional. Somos tão capazes de desenvolver autoconfiança e resiliência emocional quanto as demais pessoas. Biologia é algo difícil de mudar (e nem deveríamos fazê-lo), mas habilidades intelectuais e emocionais podem muito bem serem aprendidas.

 

A hipersensibilidade como um risco

 

Apesar dessas diferenças há um ponto que deve ser bem compreendido:  a hipersensibilidade representa um risco em potencial para as pessoas altamente sensíveis. Como disse antes, todos nós atravessamos momentos em que nos tornamos hipersensíveis, reagindo de forma extremada a estímulos com os quais normalmente seriamos capazes de conviver. Uma dessas ocasiões é quando estamos vivendo sob forte e prolongado estresse.

 

Ora, sendo mais predispostas ao estresse, as PAS apresentam também uma vulnerabilidade maior à hipersensibilidade. No momento em que o seu organismo chega ao ponto no qual o estresse supera sua capacidade de regeneração, uma pessoa altamente sensível se transforma numa pessoa hipersensível. Lembre-se: o estresse é o inimigo número um de uma PAS. Sob condições de estresse intenso e prolongado, as características associadas ao traço, que são perfeitamente controláveis quando estamos equilibrados, podem se tornar incontroláveis transformando-se num verdadeiro tormento.

 

O estresse nos torna extrassensíveis. Nossos sentidos enlouquecem e os cheiros, o barulho, a desordem e outros fatores ambientais nos incomodam ao extremo; nos tornamos impacientes e excessivamente emocionais: nos sentimos atacados por qualquer motivo e levamos tudo a ferro e fogo. Por fim, nos tornamos emburrados e choramos ou reclamamos o tempo todo (ou nos fechamos em longos silêncios, que nada mais são do que uma forma de agressão passiva). Portanto, controlar o nível de estímulo, respeitar os nossos limites e evitar o estresse por saturação são atitudes que podem livrar-nos (e às pessoas com quem convivemos) de muitos aborrecimentos

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Aprender a lidar com o excesso de estímulos para prevenir a hipersensibilidade

Nunca é demais repetir: as PAS têm um sistema nervoso altamente reativo, que torna mais difícil filtrar estímulos e mais fácil ficar sobrecarregado pelo meio ambiente. Isto significa que uma pessoa altamente sensível capta um maior número de estímulos e o faz de uma maneira mais profunda. Esta é em si mesma, uma característica neutra.  Experimentar as coisas mais intensamente pode ser uma coisa maravilhosa, mas pode também ser bastante desgastante. Quando não estamos atentos a nossa capacidade de tolerar estímulos, nos tornamos presas da sobressaturação que abre a porta para o estresse crônico. 

 

Reconheço que lidar com isto não é uma tarefa fácil.  Nosso mundo está cada vez mais acelerado, mais cheio de multidões, de ruídos mais altos e de prazos mais curtos. Mesmo a pressão para estar constantemente conectado com a mídia social, e-mail e mensagens de texto, pode ser muito dura para alguém que necessita de uma rotina mais pacífica e tranquila. Mas, temos que viver no mundo e não devemos usar a nossa sensibilidade como uma desculpa para escondermos a nós mesmos e aos nossos talentos. Neste caminho um aviso importante: quanto mais evitamos os estímulos, mais perturbadores eles tendem a se tornar.  Como diz a dra. Aron, a possibilidade de desgaste sempre estará presente em alguma medida, pois nossa sensibilidade estará sempre conosco. Desenvolver uma nova maneira de conviver com eventos estressantes, preservando e respeitando a própria sensibilidade, é parte integrante da nossa responsabilidade para conosco. 

 

As estratégias para isso podem e devem variar. Afinal, cada um de nós é único e cada situação da vida também.  Neste momento, por conta do trabalho de coaching e deste blog, estou tendo que lidar com pressões e uma carga de estímulos bem maior do que aquela à qual estava acostumada.  E estou atenta a isso. O importante é realmente estar atento aos próprios limites e tratar-se com carinho.

 

Espero que este artigo tenha lhe inspirado a cuidar melhor de si e da sua sensibilidade. Se precisar de mais algumas ideias para comecar a criar as suas estragégias para lidar com a alta sensibilidade no seu cotidiano, baixe gratuitamente o meu e-bookDez Estratégias para Conviver com a Alta Sensibilidade”. Caso tenha interesse no PAS, o meu programa de coaching para pessoas altamente sensíveis, clique aqui para receber mais informações e se candidatar a uma das vagas

 

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