Nutrindo seu corpo altamente sensível

Nutrindo seu corpo altamente sensível

01/08/2019 artigos Rosalira Oliveira

Quando se fala em alta sensibilidade a maioria das pessoas tende a se focar nos aspectos psicológicos e emocionais do termo, mas, a alta sensibilidade é, sobretudo, um fenômeno físico. Uma vez que se origina do fato de que as pessoas altamente sensíveis possuem um sistema neurossensorial mais alerta, é principalmente no corpo que ela se manifesta.

 

Conforme comprovam os estudos científicos, a alta sensibilidade caracteriza-se por um aumento da atividade do cérebro, causada por uma formação ampliada dos neurotransmissores. Ocorre, porém, que os neurotransmissores são usados não apenas no cérebro, mas em todo o corpo como um sistema de comunicação. É por isso que, além da experiência psíquica e sensorial, a alta sensibilidade afeta todo o corpo, em especial a pele e o sistema digestivo. Então, as PAS não apenas percebem o mundo de forma altamente sensível, como também possuem  um corpo altamente sensível.

 

Por conta dessa sensibilidade corporal são mais reativas a substâncias capazes de causar alergias ou irritações. Seus intestinos são muito sensíveis ao estresse alimentar, por isso os altamente sensíveis costumam ter mais alergias alimentares. Suspeita-se, por exemplo, que o trigo e o glúten tenham um impacto negativo maior  nas pessoas altamente sensíveis. As PAS também costumam reagir mais fortemente a substâncias como cafeína, álcool, nicotina, drogas (incluindo medicamentos de uso comum), proteínas do leite, produtos químicos, etc. Tudo isso é puro estresse para nosso sistema digestivo.

 

Consequências para a nossa saúde

 

Para muitas pessoas altamente sensíveis os alimentos que ingerimos regularmente são como venenos de ação lenta, com efeitos a curto e longo prazosNo curto prazo, aquilo que ingerimos pode causar picos de energia que, em seguida, nos deixam ansiosos, exaustos e mesmo deprimidos. Já no longo prazo, as reações imunes provocadas por determinados alimentos podem ter consequências mais sérias, como inflamações, mas também, algumas doenças, tais como:

 

  • Afecções da pele, como eczema, erupções cutâneas e psoríase;
  • Sintomas neurológicos, como depressão, enxaquecas, alterações de humor e TDAH;
  • Problemas do sistema imunológico, como alergias e doenças autoimunes (incluindo artrite e diabetes);
  • Síndrome do intestino irritável, indigestão e diarreias;
  • Doenças respiratórias, como asma e tosse crônica;
  • Alguns tipos de cânceres, como de intestino ou de mama;

 

Por isso mesmo é importante escolher com cuidado os alimentos e procurar, na medida do possível, evitar os estressores alimentares. Afinal, quando se é uma PAS vivendo em um mundo hiperestimulante, ter que lidar constantemente com problemas decorrentes das alergias e sensibilidades alimentares só tende a ampliar o nível de estresse em nossas vidas.

 

Existe uma dieta específica para as PAS?

Imagino que você já tem a resposta. É claro que não. Cada um de nós é uma pessoa única, com necessidades e reações também únicas. Assim, não se trata de propor uma mesma dieta para todas as PAS, mas sim de apresentar sugestões que possam otimizar seu nível de energia e, ao mesmo tempo, ajudar a evitar os problemas de saúde mais comuns entre nós. As dicas contidas aqui, se seguidas com alguma disciplina, lhe darão uma maior sensação de força e de controle sobre a sua saúde, melhorando sua autoestima e ampliando sua capacidade de alcançar seus objetivos.

 

  1. Escolha uma dieta anti-inflamatóriacomposta principalmente por frutas e vegetais, peixes gordurosos, carnes magras e óleos saudáveis. Isso pode fazer uma grande diferença no seu bem-estar físico e emocional. Verduras e legumes devem ser as estrelas do seu cardápio. Eles vão ajudar você a equilibrar-se e a suprir as necessidades de vitaminas, minerais e outros nutrientes do seu corpo altamente sensível. Complemente com um conjunto variado de alimentos: nozes, sementes, grãos integrais, frutas etc. Se você consome produtos de origem animal (carne, manteiga, ovos e outros), escolha sempre os de melhor qualidade possível, de preferência orgânicos. Lembre-se que nosso corpo é particularmente sensível a aditivos químicos.
  2. Trate os estimulantes com cuidadoEles são bons em situações específicas (e pontuais) mas não devem ser utilizados com regularidade. Estou me referindo a estimulantes óbvios como café, Coca-Cola, açúcar etc., mas também a outros alimentos, como o cacau que têm um efeito hiperestimulante. Sim, aquele chocolate 80% cacau que você adora, pode ser uma bomba de estímulos para seu delicado sistema nervoso. O chá verde é um “talvez” já que, embora tenha um efeito menos estimulante do que o cacau ou a cafeína, também pressiona as glândulas suprarrenais. Prefira os chás de ervas.
  3. Passe longe da comida-lixoEu sei que isso é óbvio para todo mundo. Mas as pessoas altamente sensíveis, em particular, se dão mal com junk-food. Por outro lado, as PAS podem se tornar mais facilmente viciadas em alimentos processados e mais propensas a usá-los como “comida-conforto” quando se sentem excessivamente estimuladas.  Este é um ciclo vicioso e desagradável. Por isso, opte sempre por comida de verdade, o mais fresca possível.
  4. Faça uma desintoxicação de vez em quandoVocê pode estabelecer por exemplo, um “dia sem carne” ou “sem açúcar” ou “sem carboidratos simples”, escolha o que mais se adeque a você e seu estilo de vida. O importante é estabelecer um regime de desintoxicação delicado. Fazer jejum ou restringir drasticamente quantidade de alimentos pode privar seu organismo das substâncias bioquímicas necessárias ao funcionamento calmo e natural do sistema nervoso.
  5. Evite ficar longos períodos sem comer A fome tem um efeito especialmente forte sobre as PAS. Manter estável o seu nível de açúcar no sangue é importante para equilibrar o seu humor. Quando o nível de açúcar no seu sangue está equilibrado os três principais hormônios (insulina, adrenalina e cortisol) são mais bem administrados e você é mais capaz de lidar com estímulos e estresse.
    Dica: se você, de repente, sentir ansiedade, irritação, tontura ou cansaço sem nenhuma causa aparente, procure imediatamente algo para comer. Mas certifique-se de ser algo que contenha bons açúcares (frutas secas, sementes, yogurte, etc.), capazes de lhe fornecer energia por um tempo relativamente longo, ao invés dos picos e quedas repentinos obtidos através dos açúcares e carboidratos simples.
  6. Evite comer em excesso Deixar um pouco de espaço no estômago ajudará seu corpo a digerir melhor a comida e evitará indigestões e tensões. Quando você come em excesso está aumentando a carga de trabalho do seu coração e criando mais estresse para o seu corpo. Experimente diminuir a quantidade de alimento nas refeições principais e intercalar com pequenos lanches para manter estabilizado o nível de açúcar no sangue.
  7. Não abandone os carboidratos comer carboidratos complexos contribui para aumentar a serotonina, um neurotransmissor cerebral que relaxa o sistema nervoso. Os alimentos ricos em proteínas, entretanto, podem bloquear a síntese da serotonina nos deixando em estado de alerta. Por isso equilibre bem estes dois nutrientes na sua dieta
  8. Hidrate-se. A hidratação é muito importante para o bom funcionamento neuronal. Também nos ajuda a ter mais energia, uma vez que a desidratação produz uma sensação de fadiga. Mantenha-se bem hidratado(a) e precisará de menos café, o que também ajudará na qualidade do seu sono.
    Lembrete: A hidratação é conseguida através da água e, também, das frutas e verduras. Bebidas energéticas, colas, refrescos e refrigerantes (ainda que sejam zero-zero-zero-zero), não hidratam. Ponto final.
  9. Prefira alimentos quentes, úmidos e nutritivos. Muitas PAS reagem com inchaços, enfraquecimento da capacidade digestiva e sensação de frio ao ingerirem muitos alimentos crus. Alimentos frios e secos também devem ser evitados e substituídos por refeições quentes e cozidas, como aveia cozida, sopas, guisados e legumes assados com óleo. Experimente caldo de osso ou de vegetais. O caldo de osso em particular pode ajudar seu corpo a se recuperar do estresse e os aminoácidos e minerais podem lhe ajudar a permanecer aterrado(a).
  10. Adicione sal marinho ou sal rosa do Himalaia à sua dietaE se livre de sais de baixa qualidade Diferente do sal comum que contém apenas iodo e cloreto de sódio, o sal rosa tem uma composição mineral muito mais rica, na qual encontramos sulfato de cálcio, potássio, magnésio, ferro, manganês, iodo, flúor, zinco, cromo, cobalto e cobre, Claro, verifique com seu médico quanto sal você pode consumir.

 

Experimente estas sugestões e vá observando com cuidado suas reações aos alimentos Você poderá se surpreender com a rapidez com que pequenos ajustes na dieta trarão melhoras em múltiplas esferas da sua vida.

 

Uma palavra sobre vegetarianismo e veganismo

 

No mundo inteiro cada vez mais pessoas (e entre elas muitas pessoas altamente sensíveis) estão optando por uma alimentação sem carne ou totalmente isenta de produtos de origem animal. As razões para esta escolha são muitas, desde a empatia para com o sofrimento dos animais até a preocupação com o impacto da produção de carne sobre os recursos limitados do planeta.

 

Mas, neste artigo estamos tratando do corpo altamente sensível e como podemos utilizar a comida para apoiar seus delicados processos metabólicos. Sobre este aspecto considero importante dizer que existem muitas pessoas altamente sensíveis que relatam que sua saúde apresentou uma melhora significativa desde que passaram a evitar carne e produtos derivados de animais, tendo diminuído suas alergias, intolerâncias e problemas digestivos.

 

Mas há também o outro lado da estória. É preciso lembrar que a dieta vegetariana ou vegana costuma incluir produtos como leite e cereais que contêm glúten, o que, por sua vez, pode levar a problemas a longo prazo. Mesmo grãos considerados saudáveis pelos padrões tradicionais, como arroz integral, quinoa, amaranto, trigo e cevada entre outros, podem desencadear reações e irritações no sensível sistema digestivo. Outros alimentos que costumam se fazer presentes nas dietas vegetarianas ou veganas, como os vegetais crucíferos (brócolis, couve-flor, aipo etc.) e os aromáticos (alho, cebola e outros). também podem causar inflamação ou serem difíceis de digerir.  Existem ainda aquelas PAS, como eu, que têm intolerância à solanáceas, como a berinjela e o tomate. Tudo isso pode tornar difícil para alguns de nós a adesão a este tipo de dieta.

 

É claro que nem todos os altamente sensíveis reagem mal a todos estes alimentos. Por isso, é importante que cada um de nós aprenda a escutar e respeitar a sabedoria do próprio corpo (ao invés de ditames externos) na hora de decidir qual a melhor maneira se alimentar. E, especialmente para as PAS que desejam seguir uma dieta vegetariana ou vegana pode ser extremamente necessário contar com o acompanhamento de um nutricionista experiente, capaz de levar em conta as peculiaridades do seu sistema digestivo.

 

Finalizando, eu gostaria de dizer que criar sua própria dieta é um processo que exige tempo e paciência para descobrir o que funciona para você. Como em vários outros aspectos da nossa vida, nem sempre aquilo que é considerado bom ou saudável para a maioria não altamente sensível será igualmente adequado para você. É preciso reaprender a penetrar na parte sensível do nosso corpo e prestar atenção aos alimentos que realmente nos alimentam e às comidas que nos enganam. Isso exige que estejamos presentes e atentos não apenas ao que estamos comendo, mas também ao como e, principalmente, ao porquê estamos comendo.

 

Para ajudar neste exercício de consciência apresento-lhe a prática do Mindful Eating (ou comer com atenção plena) e lhe deixo, como presente, o Infográfico como comer, uma das ferramentas disponibilizadas pelo Mindfull Eating Brasil e que você pode baixar aqui.

 

 

Você também pode visitar o site do Mindfull Eating e conhecer outros recursos e ferramentas clicando neste link:  http://mindfuleatingbrasil.com.br/

 

Para saber mais sobre o assunto, assista ao vídeo sobre alta sensibilidade e alimentação no meu canal no youtbe.

 

Grande abraço e até o próximo mês

 

Beijos e bênçãos,

 

 

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Sobre o autor
Rosalira Oliveira Sou coach com formação em coaching ontológico e especializada em alta sensibilidade. Fiz minha transição recentemente, quando encerrei meu ciclo como pesquisadora e doutora em antropologia cultural e tornei-me criadora do “Ame sua sensibilidade”, um programa de coaching destinado a ajudar as pessoas altamente sensíveis a compreender e integrar em essa sua característica, de modo a viver uma vida com mais felicidade e significado.

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