A pessoa altamente sensível e o medo da mudança

A pessoa altamente sensível e o medo da mudança

31/08/2016 artigos Rosalira Oliveira

cruzar a ponte: medo de mudar“Um belo dia eu resolvi mudar e fazer tudo o que eu queria fazer…”, diz a canção de Rita Lee. Dito desta maneira parece fácil. Entretanto não é. Ao longo da nossa vida o desejo por mudanças surge em várias ocasiões, como um desafio, um chamado para explorar novos territórios. Ocorre, porém que na maioria das vezes o medo (disfarçado de argumentos racionais) nos reconduz ao lugar de sempre.

 

E lá vamos nós, seguindo pela vida fazendo de conta que não estamos sentindo aquele desconforto e os dias vão passando…. Incolores, nem bons nem ruins, apenas ok. Medianos, efeito nota 05. É o apelo da zona de conforto que nos mantém quietinhos dentro dos nossos limites. Aliás, mais do que a (suposta) segurança da zona de conforto, é o medo do desconhecido que nos mantém presos ao nosso velho eu.

 

Ainda que este seja um comportamento comum a todo mundo em determinados momentos da vida, creio que é ainda mais forte nas pessoas com alta sensibilidade. Para a maioria das PAS a perspectiva de mudar é algo bastante assustador: começar algo novo, expor-se a críticas, não ter a certeza de estar preparado, enfim, correr riscos são coisas que nos angustiam de tal maneira que podem, literalmente, nos paralisar.

 

Várias razões tornam esse movimento mais difícil para nós: a facilidade de ficarmos saturados de informações (e o que mais se tem numa situação nova é excesso de informações para processar); a tendência a fixar-nos em tudo o que pode dar errado e viver antecipadamente todos os problemas que podem vir a acontecer; a empatia que faz com que valorizemos (muitas vezes de forma demasiada) a opinião das outras pessoas; além do onipresente tema da autoestima e dos sabotadores.

 

Aprendendo a conviver com a incerteza

Então, como lidamos com isso? Como criamos coragem para sair da nossa caixinha respeitando nosso modo de ser? Penso que primeiro que tudo é preciso ter clareza a respeito do motivo, do porquê, queremos mudar. Qual é a sua motivação? Ser mais feliz? Viver uma vida mais autêntica? Mais de acordo com os anseios da sua alma? Encontrar um propósito de vida e agir em consonância com ele? Considero esta resposta fundamental uma vez que é o seu porquê que vai lhe mostrar o caminho nos momentos de dúvida.

perdendo o medo de mudar

Depois, penso que é importante ter em mente que, como uma pessoa altamente sensível, qualquer coisa nova que faça lhe produzirá estresse. Mas é preciso considerar também que se você não sai de vez em quando da sua zona de conforto, se priva da possibilidade de crescer, de aprender e de se desenvolver para além dos seus limites atuais. As recompensas do crescimento superam as suas dores. E um certo nível de estresse é parte integrante desse processo. A boa notícia é que, de modo geral, quanto mais desafios enfrentamos, mais confiantes em nossas capacidades e habilidades nos tornamos. A melhor maneira de vir a ter prazer no envolvimento com o mundo é estar no mundo. 

 

Por fim, creio que é necessário conhecer e amar a si próprio. Aceitar o medo como uma das possíveis características da alta sensibilidade e tratar-se com carinho e respeito. É possível que você se lembre das vezes que, quando criança os adultos tentaram lhe forçar a fazer algo que lhe dava medo. “Deixe de ser medroso! ” Que bebé chorão você é! ” “Desmancha prazeres! ”, e de como isso só servia para aumentar o seu medo e sua angústia. Por favor, não reproduza esse tipo de tratamento. Trate a si mesmo e à sua sensibilidade com carinho. Dê-se tempo para metabolizar seu desejo, busque ajuda se achar necessário e, quando estiver um pouquinho confiante, arrisque e dê o primeiro passo, ainda que pequeno. Confie e coloque as forças do universo em movimento a seu favor.

 

Estes foram os caminhos que segui e continuo seguindo no meu processo de mudança. Em busca do meu propósito, o meu porquê, larguei a segurança de um emprego público, a cidade onde nasci e o conforto de uma casa. Agora estou em trânsito, no meio de um caminho do qual consigo ver apenas o próximo trecho. Estou feliz e segura em meio ao desconhecido? Claro que não. Sou uma PAS. Sigo com meus dois companheiros, o medo e a confiança, andando lado a lado.

 

Nessa jornada um grande aprendizado: o preço da mudança é a vulnerabilidade. Entre um ponto e outro do caminho não temos casca, estamos expostos. Nos assemelhamos ao trapezista que larga uma corda sem ter, ainda, segurado a outra. E aí talvez se encontre uma grande vantagem das PAS nos processos de mudança: conhecemos nossa vulnerabilidade, e sabemos que, de verdade, não há o que temer.

 

Gostaria de terminar com o depoimento da dra. Elaine Aron sobre sua própria experiência como PAS se arriscando fora da sua zona de conforto:

Fui uma pessoa que evitou o contato com o mundo até a metade da vida, quando fui, de certa maneira, forçada por poderosas questões intimas, a mudar.  Desde então, tive que enfrentar algum medo, hiperexcitação e desconforto quase todos os dias. O assunto é sério, não é divertido, mas pode ser feito.  E é maravilhoso estar lá fora, fazer sucesso e dizer ao mundo: “Olhem para mim! Eu também posso fazer isso. ”  

 

Já imaginou se ela não tivesse se arriscado? E você? Se acha que precisa de ajuda para fazer as mudanças que sente serem importantes na sua vida, informe-se sobre o Programa Ame sua Sensibilidade, talvez um trabalho de coaching (individual ou juntamente com outras PAS) seja indicado para você. 

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Sobre o autor
Rosalira Oliveira Sou coach com formação em coaching ontológico e especializada em alta sensibilidade. Fiz minha transição recentemente, quando encerrei meu ciclo como pesquisadora e doutora em antropologia cultural e tornei-me criadora do “Ame sua sensibilidade”, um programa de coaching destinado a ajudar as pessoas altamente sensíveis a compreender e integrar em essa sua característica, de modo a viver uma vida com mais felicidade e significado.

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