Imagino que você, como eu, já deve ter ouvido muitas vezes a frase: “Não seja…
Será que há algo de errado comigo por ser tão sensível?
Esta é uma pergunta que recebo com frequência. Muitas Pessoas Altamente Sensíveis se perguntam se são “normais” ou se realmente existe “algo de errado” nas suas reações. O que elas não sabem é que ser altamente sensível não significa apenas ser mais sensível do que as outras pessoas. Significa vivenciar o mundo de uma forma diferente e mais intensa que os demais. Como as pesquisas têm demonstrado, as PAS manifestam uma maior atividade neurológica cerebral em resposta aos estímulos, tanto internos quanto externos, do que as pessoas com sensibilidade média.
É por conta desta resposta ampliada aos estímulos que o traço, popularmente conhecido como alta sensibilidade, é cientificamente denominado como “sensibilidade de processamento sensorial – SPS”. Quando usamos a expressão sensibilidade de processamento sensorial, estamos falando de uma maior reatividade (sensibilidade) do sistema nervoso central associada a um processamento mais profundo dos estímulos – sejam eles físicos, sociais ou emocionais.
Entende agora por que as suas reações costumam ser diferentes daquelas das outras pessoas? Entende também que elas não são “erradas” ou “exageradas”? São apenas o resultado de possuir um sistema nervoso mais afinado capaz de perceber aspectos do meio ambiente que, simplesmente, passam desapercebidos para os demais. E isto não é algo ruim, pelo contrário é uma grande habilidade que as PAS possuem de maneira inata e que pode lhes ser muito útil em vários aspectos da vida.
Se não há nada errado, não há nada a ser consertado.
Ser uma PAS traz muitas vantagens, como um alto nível de empatia e inteligência emocional; grande criatividade; intuição aguçada; senso de justiça; grande capacidade de apreciar a beleza, entre outras. Mas, por vezes, existe, tanto em nós quanto nas outras pessoas, uma sensação de que nossa sensibilidade é um problema. Que ela nos torna inseguros, tímidos, ansiosos, deprimidos e defensivos, entre outros traços. E a verdade é que a alta sensibilidade não causa esses traços, mas, pode sim, nos tornar mais vulneráveis a estas condições.
E a chave para entender esta aparente contradição é a reatividade do nosso cérebro que nos torna mais propensos ao estresse. Como somos mais afetados pelo ambiente somos, definitivamente, mais propensos a que qualquer problema de saúde (ou predisposição genética) seja ampliado pelo estresse. Após décadas de pesquisas que encontraram nas PAS uma maior vulnerabilidade a determinadas doenças, um estudo crucial concluiu que o estresse era a razão subjacente para essas doenças e não simplesmente ter o traço.
Mas há muito que pode ser melhorado…
Você não pode eliminar o estresse e nem mesmo a sua facilidade para sentir-se estressado(a). Mas pode descobrir como evitar isso. Afinal, por um lado somos altamente sensíveis e este sistema nervoso mais “aberto” para o mundo é uma parte vital de quem nós somos. Por outro, não podemos mudar o mundo para ajustá-lo às nossas necessidades e ao nosso nível ótimo de estimulação. E, finalmente, também não podemos (ou queremos) passar a vida sob um nível crônico de estresse, não é mesmo? Por isto, devemos aprender a gerenciar o estresse no nosso dia-a-dia, esforçando-nos para desenvolver técnicas eficazes para lidar com o problema e, também, para acalmar o nosso sistema nervoso evitando a hiperestimulação.
Aqui estão algumas dicas para reduzir o estresse e trazer à tona o melhor de você
- Reserve um “tempo de nadismo” todos os dias. Esse tempo de inatividade pode ser usado para meditação, ioga, jardinagem, passear com os cachorros ou lavar a louça. É um tempo exclusivamente seu, quando você não é responsável por mais ninguém e desliga computadores e telefones. (Se você sabe que tem que enfrentar uma situação com muitos estímulos, como um evento com muitas pessoas, leve em conta o fato de que você pode estar esgotado e precisará de algum tempo para se recuperar depois.)
- Tire um dia inteiro de folga por semana. Com isso, quero dizer completamente de folga para se conectar com a natureza e os amigos, praticar seu esporte favorito ou ler. Esses dias vagamente planejados são frequentemente uma fonte de grande aventura. (A Dra. Aron incentiva as pessoas altamente sensíveis a restaurar o “Sabbath” e tirar 4 semanas de folga durante o ano. Ela diz que isso é mais benéfico do que um feriado longo.)
- Trabalhe com o seu sistema nervoso: Neste campo as práticas somáticas são muito importantes, porque ajudam a mudar de uma resposta de estresse para uma resposta de relaxamento. Elas incluem técnicas de aterramento, trabalho de respiração e outros exercícios que focam em sensações e movimentos corporais. Quando utiliza de forma consistente, você ensina o seus sistema nervoso a redirecionar o foco para longe de estímulos avassaladores e impedir que o estresse se transforme em esgotamento.
- Durma o suficiente. Isso geralmente significa 7-8 horas todas as noites para estar bem descansado. A falta de sono já é conhecida por causar irritabilidade e falta de concentração/produtividade para a pessoa média e isso, é claro, é intensificado quando você é uma PAS. Entenda que você precisa ser capaz dar ao seu cérebro a melhor chance de se recuperar do ataque de um mundo inundado por estímulos hiperagressivos e só o repouso profundo consegue fazer isto.
- Crie um cantinho tranquilo. Se o seu espaço permitir, crie uma área específica em sua casa que seja usada apenas para “relaxar”. Pode ser uma cadeira confortável onde você vai sentar e ler quando precisa relaxar. Ou um lugar em seu jardim para onde você pode se retirar. Ou o cantinho onde você faz algum artesanato, escreve ou escuta música. A única tarefa desse lugar é ajudar você a se envolver em atividades que sejam regeneradoras para você. Nada mais.
- Evite os estímulos desnecessários. Isso significa prestar atenção também nos micro estímulos do dia a dia e descobrir quais podem ser evitados ou atenuados. Você pode, por exemplo, manter-se longe da cafeína, diminuir as luzes em sua casa, baixar o volume da TV durante os comerciais, desligar as notificações do celular e da sua área de trabalho, etc. Reserve um momento para olhar ao redor do seu ambiente, seja em casa, seja no trabalho buscando descobrir como pode haver “menos” coisas que exigem mais da sua atenção e, com isto, aumentam o seu estresse, mesmo que maneira imperceptível…
- Dê a si mesmo(a) tempo suficiente para fazer as coisas. Esta é uma ação crucial para o seu bem-estar. PAS não costumam lidar bem com muitas coisas para fazer em pouco tempo. Crie o hábito de planejar e priorizar e dê a si mesmo bastante tempo para fazer isso e mais um pouco. Isso também pode significar ir para a cama mais cedo e acordar para garantir que você tenha um ambiente tranquilo para planejar o seu dia, antes de todo mundo acordar.
Abrace a sua sensibilidade
Como espero que você tenha compreendido, ser uma pessoa altamente sensível não significa que haja algo errado com você. Significa, simplesmente, que você processa mais dados sensoriais e o faz de maneira mais profunda que a maioria. E embora isso tenha suas desvantagens, também tem muitas vantagens bonitas e únicas. Reconhecer estes dois lados da moeda é o primeiro passo para abraçar a sua característica e aprender a cuidar melhor de si mesmo(a). A alta sensibilidade não é uma falha ou fraqueza. É uma força que precisa ser cuidada adequadamente. Do contrário estaremos nos condenando a viver num estado permanente de estresse e sobrecarga. E isto é desperdiçar os grandes dons e talentos que o traço traz consigo, tanto para nós, quanto para o mundo de modo geral. Estamos juntos neste desafio.
Beijos e bênçãos e até o próximo mês,