Imagino que você deve estar pensando que eu estou brincando. Como assim, a grande força…
Ser altamente sensível e (tentar) agradar a qualquer preço

Gostaria de começar este artigo parafraseando um personagem da novela das nove: “você pode agradar algumas pessoas por todo o tempo, pode agradar todas as pessoas por algum tempo, mas não pode agradar todas as pessoas por todo o tempo”. Por que digo isto? Porque, por vezes, parece que esta missão impossível (agradar todas as pessoas todo o tempo) é a tarefa que muitas pessoas altamente sensíveis impõem a si mesmas.
Será que este é o seu caso? Durante muito tempo foi o meu. E preciso reconhecer que ainda há momentos e situações nas quais me pego fazendo de tudo para agradar alguém, mesmo às custas das minhas próprias vontades e necessidades. A verdade é que eu era, claramente, aquilo que alguns psicólogos chamam de “pessoa agradadora” e hoje me defino como uma “pessoa agradadora em recuperação”.
Começando do começo: O que é uma pessoa agradadora?
Pessoa agradadora é, na verdade um neologismo, trata-se da tradução da expressão inglesa “people pleaser”. E porque traduzimos como pessoa agradadora, ao invés de pessoa agradável? Porque ser uma pessoa agradadora vai muito além de ser apenas agradável.
Ahá, agora ficou claro para você, não é? Mais do que agradável uma pessoa agradadora é alguém que coloca as necessidades e os desejos das outras pessoas à frente dos seus. Em sua essência, a busca por agradar às pessoas envolve priorizar as necessidades, os sentimentos ou as expectativas dos outros em detrimento dos seus — muitas vezes em detrimento do seu bem-estar e da sua autenticidade. Você conhece alguém assim? A pessoa agradadora pode ser aquela colega de trabalho que sempre pode ajudar alguém com uma tarefa inacabada ou um prazo que está se esgotando; ou aquele amigo que sempre está disponível para dar uma carona, uma ajuda ou emprestar dinheiro para os demais ou, ainda, aquela outra amiga que sempre está disposta a ouvir o desabafo de alguém, mesmo que sejam onze horas da noite e mesmo que seja a décima vez que a pessoa liga porque está precisando desabafar…
Como eu disse, talvez você conheça alguém assim ou talvez você seja a pessoa que é assim. Se você é uma Pessoa Altamente Sensível é bem possível que seja este o caso, afinal nós, PAS, costumamos ser mais propensas a este comportamento do que as outras pessoas.
E por que somos assim?

A clássica pergunta de um milhão de dólares. Existem várias razões que ajudam a entender por que alguém se torna um agradador(a). Muitas delas estão relacionadas à infância, particularmente no caso daqueles dentre nós (e quem não?) que cresceram em uma casa onde o amor era condicionado e vinha como recompensa pela obediência e pelo comportamento esperado. Isto nos levou a sentir que o nosso valor dependia de agradar a alguém – nossos pais, cuidadores, professores e por aí vai. Quando crescemos com esta percepção, temos a tendência a seguir pela vida à fora reproduzindo este comportamento, como forma de obter amor e aprovação.
Por outro lado, o fato de ser altamente sensível também pode contribuir para que desenvolvamos este comportamento de agradar às outras pessoas de maneira compulsiva. Na verdade, os dois fatores – o traço de personalidade e as experiências da infância – andam lado a lado quando se trata desta tendencia. Mas, de modo geral podemos listar algumas características ligadas ao traço que nos tornam mais propensos a nos tornarmos uma pessoa agradadora, entre elas:
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- A empatia que nos leva a nos conectarmos de maneira profunda com sentimentos das outras pessoas;
- O medo do conflito e o desejo de evitá-lo à todo custo
- A intensidade emocional que faz com que a rejeição (ou a expectativa dela) nos pareça algo profundamente doloroso
- A baixa autoestima que costuma acompanhar muitos de nós, devido ao fato de nos sentirmos diferentes das outras pessoas.
E então, como podemos lidar com isto?

Nem preciso dizer que não é fácil. Afinal, se trata de mudar um comportamento profundamente enraizado em cada um de nós e cuja origem está ligada a sentimentos, emoções e crenças que tem um profundo efeito sobre a nossa identidade e autopercepção. Portanto, o primeiro passo (e o mais importante) é saber que é possível mudar. Nem as nossas experiências da infância e nem o nosso traço de personalidade constituem uma sentença perpétua que nos condena a manter determinado comportamento, principalmente quando se trata de algo que é danoso para nós e nos impede de viver livremente. Lembra que eu disse que era uma “agradadora em recuperação”? Pois é, posso dizer, por experiência própria, que para nós, pessoas altamente sensíveis que lutam com a tendencia a agradar, aprender a priorizar o autocuidado e respeitar nossos limites pode ser uma virada de jogo na nossa vida.
A cura vem por meio da autenticidade, limites e autocuidado
Romper com a obsessão por agradar pode ser (e geralmente é) assustador. Ainda assim, mudanças duradouras são possíveis quando você tem acesso às ferramentas, apoio e informações certas. Aqui alguns passos que eu considero importantes nessa jornada:
1. Identifique as causas raiz
Como falei antes a busca por agradar aos outros pode surgir de muitas causas: condicionamentos da infância, medo da rejeição ou o anseio por aceitação. Identificar estas origens é importante porque lhe permite desafiar suas antigas crenças e as suposições que alimentam seu comportamento agradador. E, a partir daí, questionar a validade e o impacto deste modo de pensar. Este é um primeiro passo essencial para a mudança.
2. Priorize seu autocuidado (sem culpa)
Esta é uma dificuldade para muitas PAS. Você precisa compreender que cuidar de si mesmo(a) não é egoísmo — é uma necessidade de saúde, tanto física quanto mental. Comece devagar: faça pequenas pausas ao longo do dia; cuide do seu sono e da sua alimentação; inclua atividades relaxantes na sua rotina, etc. Mas, sobretudo, perceba que o autocuidado não será viável se você estiver com todo o seu tempo todo comprometido(a) com as necessidades e prioridades das outras pessoas!
3. Pratique dizer “não”
A coisa mais importante que quem vive agradando as pessoas precisa aprender é dizer não. Mais uma vez aqui o conselho é vá devagar: introduza lentamente a palavra “não” (ou alternativas mais simpáticas) em resposta a pedidos que lhe esgotam ou conflitam com seus valores. Entenda que cada vez que você recusa uma responsabilidade indesejada, está dizendo “sim” para as suas verdadeiras necessidades. Não se trata de algo fácil. Afinal, você terá de lidar com o desafio da culpa e do medo da rejeição. Por isto tenha paciência consigo mesmo(a), mas não deixe de tentar. Lembre-se que quando não consegue dizer não você entrega o controle da sua vida nas mãos das outras pessoas.
4. Aprenda a definir e, principalmente, a manter limites
Limites servem como fronteiras emocionais. Seu papel é informar aos outros e a nós mesmos aquilo que consideramos (e o que não consideramos aceitável na maneira como somos tratados. Sei muito bem o quanto estabelecer e impor limites é difícil para nós PAS, especialmente quando as pessoas brigam conosco porque estão acostumadas a passar por cima de nós e das nossas necessidades.
E a parte mais difícil deste trabalho é que não basta fazê-lo uma única vez; É preciso insistir até que as outras pessoas entendam que devem respeitar os limites que estabelecemos. Por vezes, um simples “não, obrigado” pode precisar ser repetido várias vezes até que as que as outras pessoas o aceitem. E isto é exaustivo! Por isto mesmo, consistência é tudo. Comece devagar, estabelecendo apenas os limites que você acredita que será capaz de manter e não recue, mesmo que isto seja doloroso.
5. Abra-se ao processo e aceite seus sentimentos
Eu gostaria de lhe dizer que este será um caminho tranquilo. Mas não é verdade. Somos emocionalmente sensíveis e, por vezes, a reação das outras pessoas vai doer e doer muito. Outras vezes podemos sentir uma imensa sensação de culpa por simplesmente nos preocuparmos conosco e com as nossas necessidades. Mas podemos escolher entre deixar que esses sentimentos nos bloqueiem ou podemos aceitar que eles existem optando proativamente por deixá-los ir.
Assim sendo quero lhe sugerir que tente. Avance devagar, respeite o seu ritmo, dê pequenos passos e perceba que embora isto seja algo que não mudará da noite para o dia, com seu esforço, mudará de forma lenta, mas segura. Perceba que por trás da compulsão em agradar existem emoções profundas. Suas experiências passadas lhe levaram a temer a assertividade e a esconder seu verdadeiro eu. É por isto que você sente coisas como ansiedade e desconforto quando começa a caminhar em busca de autoafirmação.
Abraçando seu eu autêntico
Embora agradar aos outros possa parecer um comportamento altruísta, quando praticado de maneira compulsiva pode ter efeitos negativos duradouros sobre a nossa saúde, relacionamentos e senso de identidade. Seguir pela vida dizendo sim quando queremos dizer não é um ato de profunda autonegação. Cada vez que dizemos sim quando efetivamente queremos dizer não estamos comprometendo a nossa dignidade e rebaixando nossa autoestima. Cada vez que dizemos não e nossa vontade não é levada em conta nos sentimos desrespeitados.
A jornada de cura pode não ser fácil, mas me parece um desafio inevitável. Cada vez que escolhemos respeitar nossas próprias necessidades damos um passo em direção a uma vida mais autêntica e à proteção da nossa energia. E embora p hábitos de toda uma vida possa levar tempo, cada pequena vitória vale a pena ser comemorada. Você merece a mesma gentileza, respeito e atenção que dedica as outras pessoas ao seu redor. E, se acreditar que precisa de ajuda para caminhar nesta direção entre em contato comigo. Talvez a Mentoria Ame Sua Sensibilidade seja uma alternativa adequada para você.




