Eu sou assim por que sou PAS?

14/08/2024 artigos Rosalira Oliveira

PAS em dúvidaEsta é uma das perguntas que recebo mais constantemente. Há tantas dúvidas e informações desencontradas sobre o tema da alta sensibilidade que podemos nos sentir perdidos tentando entender se nossas reações estão ou não ligadas ao traço.  Acredito que parte desta dificuldade nasce do fato de que a maioria de nós ao se identificar como altamente sensível sente uma profunda sensação de alívio, como se agora tivéssemos a chave para entender tudo a nosso respeito: nossas particularidades e, também, nossas dificuldades.

Nessa busca podemos ter a tendencia a criar um modelo ideal, um padrão de como uma PAS deve ser, agir e reagir. Como se o fato de compartilharmos um mesmo traço de personalidade apagasse as (muitas) diferenças que existem entre as pessoas altamente sensíveis. Entretanto, a realidade não é bem assim. Ser altamente sensível é apenas uma parte de quem nós somos. Para além da alta sensibilidade existem outros traços de personalidade, além das nossas experiências de vida, que moldam a nossa personalidade.  E mais ainda, a própria sensibilidade se expressa de maneira distinta em cada pessoa. 

Compartilhar o traço nos torna parecidos

As pessoas geralmente não gostam de ser chamadas de sensíveis porque acham que isso significa que elas são frágeis ou dramáticas. Mas não é isso que quero dizer quando uso a palavra “sensível”. Neste contexto, eu estou falando sobre ter uma mente e um corpo que respondem de maneira mais intensa ao mundo ao seu redor.

Na verdade, uma palavra melhor para “sensível” seria “responsivo”. As pessoas altamente sensíveis respondem mais fortemente a tudo: ao ambiente, às emoções (suas e das outras pessoas) à natureza, à arte etc. A mente sensível vai fundo em situações em que outros apenas tocam a superfície.

Por conta disto, as pessoas altamente sensíveis geralmente compartilham características semelhantes, como sentir-se estressado em ambientes com muitos estímulos, sentir as emoções de maneira muito profunda e ter alto grau de empatia, entre outras.  É este compartilhamento de características que gera aquela sensação de identificação que sentimos quando ouvimos alguém falar sobre o que significa ser altamente sensível.PAS em grupo

É quase como se alguém “estivesse contando a nossa estória”. É por isso que é tão impactante para muitas pessoas altamente sensíveis participar de grupos com outras PAS. Ao estar em grupo elas veem suas estórias contadas por outras vozes. E reconhecer essa trajetória em comum pode ser algo muito libertador porque nos ajuda a dar sentido às nossas experiências e reações. Finalmente, nos sentimos parte de algo, como se tivéssemos, enfim, encontrado um lugar onde nos encaixamos sem esforço.

Mas também nos diferencia

Mas, como talvez você saiba, existem outras características que podem se confundir com o traço da alta sensibilidade, levando a uma identificação errônea de uma pessoa como PAS. Foi por isto que a dra. Elaine Aron e seus colaboradores criaram o acrônimo DOES para ajudar a evitar confusões. De acordo com a dra. Aron, só podem ser considerados altamente sensíveis as pessoas que apresentam estas quatro características:

Processar toda a informação de maneira profunda (remoer, pensar demais sobre um acontecimento etc.); Ter facilidade para sentir-se super estimulada (por excesso de estímulos); Possuir uma profunda intensidade emocional e grande empatia e, por fim, Ser sensível a sutilezas que, por vezes, passam desapercebidas pelas outras pessoas.

Ela chamou estas características de pilares da alta sensibilidade porque todas elas estão presentes nas PAS e, portanto, caracterizam o traço. Acontece que embora os quatro pilares nos permitam identificar com clareza uma pessoa altamente sensível é importante esclarecer que, como indicam as pesquisas mais recentes sobre o traço, a alta sensibilidade pode se expressar de maneiras diferente em cada pessoa.

Por muito tempo a alta sensibilidade foi vista como uma característica única — ou você é uma pessoa altamente sensível (PAS) ou não é. Mas, o avanço das pesquisas nos permitiu identificar algumas variações entre as PAS.  Os pesquisadores classificaram estas diferenças em três grupos. Cada um deles se caracteriza por uma maneira predominante de expressão da alta sensibilidade.

E estas maneiras são:

  1. Possuir um baixo limiar sensorial (estar profundamente consciente e ser muito responsivo às sensações sensoriais);
  2. Ter facilidade para sentir-se excitado (ter reações fortes às coisas, especialmente às emoções, suas ou alheias)
  3. Ter grande sensibilidade estética (uma profunda sintonia com a arte e a beleza).

PAS protegendo-se dos estímulosQualquer pessoa altamente sensível pode se encaixar em uma, duas ou em todas as três maneiras. Lembre-se que aqui trata-se, principalmente, de uma predominância em uma ou mais maneiras de ser altamente sensível. Você pode pensar nelas como subtipos de PAS. Cada um com seus pontos fortes e fracos. O mais importante é entender que identificar-se com um ou mais de um deles vai lhe ajudar a compreender como o fato de ser altamente sensível impacta sua personalidade e suas reações.

E quais são estes “tipos” de PAS?

No seu livro Sensível: O poder secreto das pessoas altamente sensíveis em um mundo sobrecarregado, André Solo e Jenn Granneman nos ajudam a entender estes subtipos dando um nome a cada um para tornar mais fácil sua compreensão. Apresento abaixo um resumo de cada tipo:

  1. O “Supersensor” (aquele que possui um baixo limiar sensorial)

Supersensores são altamente conscientes de seu ambiente externo e sensorial. Se você é um supersensor, isso significa que você não filtra as informações que recebe do seu entorno. Ao invés disso, percebe cada pequeno detalhe com todos os cinco sentidos — audição, visão, tato, paladar e olfato.

Isso torna os supersensores tão perceptivos que, às vezes, parece que eles têm uma “super audição” ou outros “super” sentidos. Na realidade, seus sentidos não são mais aguçados do que os de qualquer outra pessoa. A diferença é que a informação captada através deles é processada com mais atenção e profundidade.

  1. O “Supersentidor” (aquele que possui grande facilidade para a excitação)

Supersentidores são PAS que tendem a ter respostas fortes a estímulos de todos os tipos, sejam eles internos (como fome ou dor) ou externos (como o clima). Geralmente, isto significa também que eles apresentam fortes respostas emocionais.  Supersentidores tendem a ser altamente sintonizados com as emoções, sejam as suas sejam as das outras pessoas. Essa emocionalidade é a fonte tanto dos maiores pontos fortes de um supersentidor quanto de seus maiores desafios.  Aquela “PAS arquetípica”, que absorve as emoções das pessoas e pode ser um empata, é provavelmente um supersentidora.

  1. O Esteta (aquele que apresenta uma grande sensibilidade para a arte e para o belo)PAS esteta

Estetas são PAS altamente sintonizadas com a arte, a beleza e a maneira como nossos arredores físicos nos influenciam. Um esteta pode ser um gourmet sempre tentando refinar uma receita para obter a mistura certa de sabores. Ou pode um decorador de interiores natural, um fashionista, paisagista ou artista, sentindo intuitivamente qual combinação de coisas ficará perfeita. Mas, acima de tudo, o esteta apresenta uma profunda reação emocional à arte e à beleza, seja ela natural ou algo criado pelos homens.

 

E por que isto é importante?

Como eu disse antes, cada um destes subtipos tem suas forças e suas fraquezas. E Entender mais sobre a maneira como a sua sensibilidade se expressa é fundamental para poder criar um estilo de vida que se adeque a você. Afinal, se você é altamente sensível precisa ter em mente que, quanto melhor for o seu gerenciamento do traço, e quanto mais adequadas forem as ferramentas que utiliza para manter baixos seus níveis de estresse e saturação, maior a tranquilidade que terá na vivência do seu traço de personalidade.

Um exemplo: Sou uma PAS supersensora. Isto significa que preciso estar muito atenta para administrar meu nível de estimulação no dia a dia.  Também sou uma supersentidora, o que me ajuda no meu trabalho como coach, mas implica que preciso estabelecer com clareza os limites entre mim e meus clientes, ou corro o risco de me confundir com eles. Já um cliente meu (uma PAS esteta) sentia-se deprimido e sem energia por morar em um apartamento cinzento onde não havia nada significativamente belo. Isto mudou quando passou a viver em outro ambiente.

Como falei antes, é muito importante que o gerenciamento do traço da alta sensibilidade seja algo personalizado. E isto só pode ser feito à medida que você aprende a conhecer mais sobre o traço e sobre a maneira particular como ele se expressa em você. Porque você é uma PAS, mas dentro disso você também é uma pessoa realmente única.

Se deseja compreender como o traço da alta sensibilidade influencia as suas reações e definir a melhor estratégia para o seu autocuidado pessoal, clique aqui e saiba mais sobre os Encontros Sensíveis nosso novo espaço para partilha e informações sobre o traço.

Beijos e bênçãos

Rosalira dos Santos

 

 

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