Comunicação assertiva: um aprendizado fundamental para uma PAS

Comunicação assertiva: um aprendizado fundamental para uma PAS

10/07/2020 artigos Rosalira Oliveira

amigos comunicação

Ultimamente, o tema da comunicação tem rondado a minha cabeça. Tenho tratado do assunto na minha página do Facebook e, também, no canal do youtube. E por que considero este tema tão importante para os altamente sensíveis?  Porque boa parte do nosso bem-estar como PAS depende da qualidade da nossa comunicação: saber expressar nossas necessidade e sentimentos de forma assertiva e, ao mesmo tempo, respeitosa é um aprendizado essencial para todos nós.

 

Um dos aspectos nos quais as habilidades de comunicação podem nos ajudar diz respeito à nossa dificuldade em estabelecer limites nas relações pessoais. Como PAS temos um grande desejo – por vezes uma verdadeira necessidade – de agradar aos outros. Isto pode nos levar a modular o nosso comportamento com base naquilo que achamos que os demais esperam de nós, ou pior ainda, naquilo que eles vão pensar a nosso respeito. Esta atitude pode nos levar a não expressarmos nossos desejos e personalidade e com isto acumularmos mágoas e rancores.

 

A coisa se torna ainda mais difícil quando nos vemos em situações de conflito e precisamos comunicar nosso desagrado com alguma coisa. Costumo dizer que existem dois tipos de PAS: aquelas que aguentam o máximo possível e, de repente explodem de maneira incontrolável e, muitas vezes, destrutiva (buuum!); e aquelas que simplesmente  guardam a mágoa e o ressentimento para si mesmas e explodem de maneira indireta – através de frases e comportamentos calculados para ferir o adversário – sem nunca se permitir expressar diretamente sua raiva ou descontentamento. O que é comum nos dois casos é a dificuldade em expressar-se de maneira direta, respeitosa e honesta quando algo não vai bem. Ambas as estratégias são danosas e prejudicam a qualidade de nossos relacionamentos.

 

A importância de aprender a se comunicar

 

A boa notícia é que existe, sim, uma maneira de sermos diretos sem explodir, sem atacar a outra pessoa e ferindo o mínimo possível. Esta maneira de agir parte de uma mudança de perspectiva, na qual ao invés de culpar a outra pessoa pelo meu sentimento (raiva, mágoa, irritação, etc.), eu assumo a minha responsabilidade por eles.

 

Um exemplo: É bem diferente dizer “Ei, você é cego? Não está vendo que o seu cachorro sujou a minha calçada?” e dizer “Olhe, entendo que o seu cachorro precisa fazer suas necessidades, mas me incomoda quando vejo minha calçada suja. Da próxima vez, por favor, traga uma sacola para recolher a sujeira”.

 

Qual a diferença entre as duas falas? A diferença está em de um lado atuar de maneira acusatória, abrindo mão do seu poder e assumindo uma postura de vítima. E do outro, assumir a responsabilidade pelo sentimento que a situação nos produz e expressar o sentimento sem criticar o outro, atuando com empatia e ainda oferecendo uma solução.

 

conflito e comunicaçãoUma coisa importante a dizer é que comunicar-se de maneira direta e efetiva não vai evitar os conflitos. Muitas vezes eles são inevitáveis e devem ser encarados. O objetivo principal aqui é aprender a nos situar dentro de uma relação, evitando nos sentir vitimizados pelo comportamento alheio ou arrependidos por explodir, atuando de maneira despropositada. O desafio está exatamente em encontrar um equilíbrio, comunicando de maneira firme, porém respeitosa, nossos sentimentos e necessidades.

Tá bom, mas como fazer?

 

Existem muitas técnicas que visam tornar mais efetiva nossa maneira de nos comunicar, sendo que talvez a mais conhecida seja a comunicação não violenta (CNV), desenvolvida pelo dr. Marshal Rosemberg.

 

Em termos gerais, a CNV é um processo de quatro etapas é baseado em 1). Descrever o fato, fazendo observações neutras e sem julgamentos: “Ouvi você dizer que não pode vir ao show comigo.” 2). Expressar o sentimento que a situação lhe causou: “Eu me sinto confuso ou frustrado.” 3). Transmitir sua necessidade não atendida: “Eu preciso de consistência ou consideração.” 4). Quando houver compreensão real, faça um pedido para satisfazer a necessidade: “No futuro, você me avisar mais cedo se mudar de ideia ou tiver algum problema?

 

Reconheço que não é fácil praticar este tipo de conversação, por isso mesmo ela implica em um aprendizado. Mas, considerando as nossas dificuldades com a comunicação direta, este é um esforço que vale à pena fazer. Se você quiser saber mais sobre a CNV, eu lhe recomendo este vídeo com uma palestra do dr. Rosemberg.

 

 

Recomendo muito a CNV, que considero uma ferramenta especialmente útil para as PAS. Entretanto, mais do que uma técnica, gostaria de encerrar este artigo chamando a atenção para algumas reflexões que, acredito, são particularmente importantes para nós, principalmente diante de situações de conflito.

 

  1. Identifique as crenças que lhe impedem de tomar uma posição. Você acredita que as pessoas vão deixar de lhe querer bem porque você discorda delas? Acha que tem que ceder a todo mundo para ser querido(a)? Ou criou uma imagem de si mesmo(a) como uma pessoa frágil que não consegue lidar com conflitos? Enfim, entenda como os seus pensamentos sobre si mesmo atuam como bloqueios para a sua autoexpressão.
  2. Fale sobre as pequenas coisas, no momento mesmo em que elas acontecerem. É claro que você pode precisar de um tempo até para compreender os seus sentimentos. Mas, não deixe passar tempo demais antes de esclarecer um problema ou situação. E, também, não permita que os desentendimentos se acumulem. Limpe a atmosfera assim que possível. Isto evitará grandes tempestades – de lágrimas, de gritos ou de recriminações.
  3. Evite ruminar sobre um problema. E não crie um discurso pré-planejado. Quando você discute sobre algo sozinho, tira conclusões unilaterais. Você pode começar a rotular a outra pessoa como “egoísta”, “insensível”, etc. E é muito provável que toda essa avaliação negativa contamine a sua disposição para o diálogo quando você, finalmente, decidir conversar com a pessoa.

 

Sei que todo este assunto é um tanto difícil para nós. Eu própria passei muitos anos fugindo dos conflitos por medo das suas consequências. Foi preciso perceber o dano que esta atitude causava para assumir o risco de me posicionar com clareza nos momentos de desacordo. O ganho que esta atitude me traz, em termos de respeito e autoestima, compensa o eventual desconforto causado pelo enfrentamento do conflito. Ao final, tanto eu como as minhas relações mais importantes, saímos fortalecidos deste meu aprendizado. Desejo, de coração que aconteça o mesmo com você.

 

Beijos e bênçãos e até o próximo mês.

 

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Sobre o autor
Rosalira Oliveira Sou coach com formação em coaching ontológico e especializada em alta sensibilidade. Fiz minha transição recentemente, quando encerrei meu ciclo como pesquisadora e doutora em antropologia cultural e tornei-me criadora do “Ame sua sensibilidade”, um programa de coaching destinado a ajudar as pessoas altamente sensíveis a compreender e integrar em essa sua característica, de modo a viver uma vida com mais felicidade e significado.

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