Com toda certeza, uma das questões que mais causam sofrimento às pessoas altamente sensíveis é a dificuldade em definir limites nas relações, sejam elas pessoais ou profissionais. É muito comum que as PAS tenham dificuldade em estabelecer limites pessoais razoáveis ​​com, bem, com a maioria das pessoas. Elas podem tender a ignorar ou negligenciar suas necessidades, dar demais, ou se sentirem desconfortáveis e profundamente culpadas ao dizer “não”.

Ao longo do meu trabalho tenho me deparado vezes sem conta com esta dificuldade que, devo reconhecer, também é minha. Assim como ocorre com os meus clientes, não foram poucas as ocasiões nas quais escolhi “engolir sapo” e deixar passar  comportamentos que me faziam mal, a fim de evitar uma confrontação ou um conflito. E tampouco foram poucas as vezes em que tudo o que consegui com esta atitude foi me sentir fraca e ressentida, seja comigo mesma, seja com a outra pessoa. E você? Também se reconhece nessa história? Pois bem, vamos começar pelo princípio: por que é tão difícil para nós estabelecer limites?

Por que é tão difícil para nós estabelecer limites?

Como disse acima, muitas PAS lutam com limites frágeis.  É comum que digam “sim” quando querem dizer “não” e acabem se sentindo sobrecarregadas e usadas pelas demais pessoas. Outras vezes “deixam as coisas passarem” e não expressam suas necessidades e sentimentos a fim de evitar aborrecer ou irritar as outras pessoas.

Mas, quais as causas deste comportamento?

É claro que existem muitas razões para isto, aqui estão algumas delas:

• Nossa empatia

Todas as PAS possuem um alto grau de empatia, já que esta é uma das características definidoras do traço. Nós captamos e sentimos profundamente as emoções dos outros e, por vezes, estamos mais sintonizados com as necessidades deles do que com as nossas. Assim, quando vemos que alguém ao nosso redor está precisando de algo, ou quando pensamos que a pessoa irá se magoar ao ouvir um não, temos a tendência a fazer o máximo para deixá-la satisfeita, mesmo às custas do nosso próprio bem-estar

• A tendência a evitar confrontações e conflitos

Queremos evitar o desconforto de decepcionar os outros, ou pior ainda, de termos que encarar uma discussão.  Assim, podemos escolher não estabelecer limites a fim de evitar estas situações.  Embora possa parecer uma estratégia positiva, este tipo de atitude nos leva a acumular ressentimento e  nos sentirmos abusados pelos demais.

•    Crenças equivocadas

Podemos acreditar que estabelecer limites ou dizer “não” é um ato egoísta. Ou talvez tenhamos tido uma experiência em que estabelecemos um limite e depois nos sentimos culpados ou podemos ter a certeza que seremos rejeitados por aqueles que amamos se estabelecermos limites. Ou pode ser, ainda, que tenhamos muitas dúvidas sobre o nosso valor e tentemos compensar isto dizendo sim a tudo e a todos. Tudo isto pode fazer com que cedamos por medo do desconforto patrocinado por estas crenças.

Por que os limites são tão importantes para os altamente sensíveis?

Como as pessoas altamente sensíveis são profundamente empáticas pode se tornar desafiador para você estabelecer limites. Você pode ser uma pessoa que agrada as pessoas e se sente culpada por dizer “não”. Ou pode se sentir responsável pelos sentimentos dos outros.

No entanto, é importante lembrar que estabelecer limites não é egoísmo — é uma parte necessária do autocuidado. Sem aprender a cuidar-se e a preservar a sua energia, você pode se sentir sobrecarregado(a), esgotado(a) e utilizado(a) pelos demais, mesmo que eles não tenham, de verdade, a intenção de se aproveitar de você.  Ao definir limites, você se torna capaz de decidir quanto pode oferecer aos outros e, com isto, tornar os seus relacionamentos mais saudáveis e equilibrados.

Tá, mas como estabelecer limites mais claros?

As pessoas falam sobre estabelecer limites como se isto fosse algo fácil. Porém se você é uma PAS, que por vezes, nem sabe ao certo quais são os seus limites, isso pode ser mais fácil de falar do que de fazer.

A primeira coisa que você precisa entender é que estabelecer (e manter) seus limites é um aprendizado e um aprendizado constante. Isso significa que haverá momentos em que você vai errar, seja sendo rígido demais, seja sendo flexível demais e isto faz parte do processo.

Dito isto, aqui estão algumas sugestões para iniciar este aprendizado.

1. Identifique os seus limites

O primeiro passo para conseguir definir bons limites é saber quais são os seus limites. Isto pode parecer algo óbvio, mas pode ser difícil para uma PAS que passou a maior parte da sua vida com a atenção voltada para as outras pessoas e suas necessidades.  Para identificar seus limites é necessário aprender a concentrar-se em si mesmo(a) e suas necessidades em primeiro lugar. Isto inclui entender o que drena sua energia, o que faz você se sentir sobrecarregado(a) e aquilo que é — e o que não é — aceitável para você. Para fazer isto pode ser necessário tirar um tempo para refletir sobre o que você precisa para se sentir seguro(a), respeitado(a) e no controle da sua vida. Faça isto através de uma meditação, uma conversa com um amigo ou mesmo escrevendo no seu diário.

2. Comunique claramente seus limites as outras pessoas

Depois de conhecer seus limites, é importante aprender como comunicá-los aos outros. Isto pode ser assustador, especialmente se você está acostumado a ceder para evitar conflitos e discussões. Por isto mesmo é importante ser claro(a) e direto(a) em sua comunicação. Nas primeiras vezes (ou em situações particularmente tensas) pode ser útil praticar antes da conversa. Você pode escrever o que deseja dizer ou repassar mentalmente o diálogo como uma maneira de preparar-se para a ocasião.

Uma dica: Lembre-se que o mais importante aqui é expressar suas necessidades e sentimentos e não culpar a outra pessoa ou fazê-la sentir-se mal.  Você pode usar declarações que comecem com “eu”.

3. Aprenda a ser assertivo(a)

Assertividade é a habilidade de expressar nossos pensamentos, sentimentos e necessidades de forma direta e respeitosa. É uma forma de se defender sem, necessariamente, atacar o outro. Esta é uma habilidade importante para as PAS porque lhes dá a segurança de estarem sendo justas ao delimitar-se em relação aos demais. E é uma habilidade que pode ser aprendida. Mas, é essencial compreender que a base da assertividade reside no reconhecimento de que todos nós temos direito a decidir sobre a melhor maneira de dispor do nosso tempo, dinheiro, energia e tudo o mais. Assim, se por exemplo, você quer ficar em casa na sexta-feira à noite, mesmo que os seus amigos estejam lhe pressionando para sair com eles. Diga não sem culpa!

4. Respeite também os limites dos outros

Uma parte essencial do trabalho com os limites é aceitar os limites das outras pessoas. E, mais uma vez, trata-se de algo que pode ser difícil para uma PAS, que tende a se sentir profundamente magoada quando ouve um não ou quando não recebe do outro a validação que buscava.  Nossa intensidade emocional pode nos tornar extremamente exigentes em relação ao quanto esperamos receber de alguém que gostamos, em termos de atenção, presença, afeto, etc. Mas, é crucial compreender que as outras pessoas (assim como eu e você) também têm o direito às suas escolhas e podem precisar definir limites em relação a você. Neste caso, cabe a você respeitar estes limites, mesmo quando eles lhe desagradam, tal como deseja que elas ajam em relação a você e aos seus limites.

E para terminar…

Definir e implementar limites pode ser um divisor de águas na saúde mental de uma pessoa altamente sensível, porque lhe permite sentir-se no controle de sua vida ao invés de se sentir usada ou desrespeitada pelos demais. Estabelecer limites não é um sinal de egoísmo ou de não querer ajudar os outros. Pelo contrário, você precisa cuidar bem de si mesmo(a) e de suas necessidades antes de poder cuidar das dos outros.

Isto lhe ajudara também a proteger melhor sua energia e manter relacionamentos saudáveis.

❤ Beijos e bênçãos e até o próximo artigo.