Que estresse! O perigo da saturação em pessoas altamente sensíveis

Que estresse! O perigo da saturação em pessoas altamente sensíveis

31/10/2016 artigos Rosalira Oliveira

estresse e saturação
No artigo anterior abordei o tema da hipersensibilidade e fiz um alerta para a necessidade das pessoas altamente sensíveis vigiarem com atenção o seu cotidiano, de modo a evitar cair na armadilha do estresse por saturação. Gerenciar os estímulos e evitar chegar ao ponto da sobressaturação é uma questão crucial para a nossa qualidade de vida. E o motivo é fácil de compreender: a característica da alta sensibilidade faz com que uma PAS não apenas absorva mais informações, como também que as processe de uma maneira diferente, mais profunda que as demais pessoas. Este é um processo em grande parte inconsciente e que, por isso mesmo, não pode ser controlado pela vontade da pessoa.

Ora, ocorre que absorver e processar tanta informação o tempo inteiro consome muita energia. Desse modo quando há um excesso de estímulos (como ruídos constantes, multidões, agendas lotadas, convivencia com pessoas agressivas, etc.), ficamos simplesmente esgotados e oprimidos pelo peso das solicitações feitas aos nossos sentidos. Isso é o que chamamos saturação, uma condição, infelizmente, muito comum na vida das pessoas altamente sensíveis.

Podemos comparar nossa capacidade de processar os estímulos vindos do meio ambiente a uma pequena bolsa interna, que cada um de nós carrega consigo. Se não estivermos atentos, vamos absorvendo e processando estímulos até o ponto em que nossa bolsa interna simplesmente transborda. Este é o ponto de saturação. E as PAS, como consequência da maneira como processam a informação, chegam bem mais depressa a este ponto.

Infelizmente algumas outras características associadas ao traço da alta sensibilidade, como o perfeccionismo e a dificuldade em dizer não, podem levar as pessoas altamente sensíveis a ultrapassarem os seus limites. Alguns de nós simplesmente não percebem os sinais da mente e do corpo e seguem vivendo uma rotina altamente estressante (com muitos estímulos, interação social e excesso de atividades), até o momento em que simplesmente “desabam” e não conseguem mais prosseguir. Mais ainda: pessoas altamente sensíveis absorvem não só informações, mas sentimentos e energias também. Por conta disso, trabalhar ou viver com as pessoas com raiva ou negativas, por exemplo, pode fazer com que você absorva, inconscientemente, estes sentimentos, tomando-os como seus.

A saturação e suas consequências

Quando atingimos o ponto de saturação nos tornamos vítimas do “efeito gota d’água”, aquele estado no qual sentimos que não podemos lidar com mais nada. A partir daí muitas coisas podem acontecer: que fiquemos esgotados, sem energia para as atividades cotidianas; que estejamos cronicamente irritados, reclamando por tudo e por nada; que fiquemos ainda mais emocionais, chorando à toa; que não consigamos conciliar o sono ou que, pelo contrário, tenhamos sono em demasia; que tenhamos vontade de fugir, de desaparecer… Todas estas situações nos tiram o equilíbrio e tornam a vida mais difícil, tanto para nós quanto para as pessoas com quem convivemos

Vale lembrar que podemos ficar saturados tanto por coisas e situações que consideramos negativas quanto por aquelas que avaliamos como positivas, como surpresas (não é à toa que a maioria de nós não gosta de surpresas), alegrias e excitação. Tudo isso pode afetar de maneira mais intensa uma pessoa altamente sensível. Esta é a razão porque alguns de nós (eu inclusive) podem chegar a adoecer em meio a um episódio extremamente positivo como uma viagem muito desejada, uma promoção, um casamento…. Ainda que felizes essas situações podem criar uma carga extra de estresse, simplesmente por causa da excitação que provocam.

A melhor maneira de evitar esse tipo de situação é viver com maior consciência da nossa energia e assumir a responsabilidade de gerenciar nosso cotidiano, levando em consideração o traço da alta sensibilidade.  Isso implica, sobretudo, prestar atenção ao corpo para ser capaz de identificar os sinais de alerta e reconhecer a necessidade de descanso, tanto físico quanto sensorial e emocional. O corpo é nosso melhor guia. Você pode até não perceber que está estressado, mas seu corpo está consciente disso.

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Como lidar: Algumas dicas

Administrar o estresse por saturação uma vez que este se instala não é tarefa fácil. Exige tempo, mudança de perspectiva e reavaliação da rotina e do estilo de vida. Claro que cada pessoa terá que traçar as próprias estratégias e escolher seus caminhos. Mas, como sugestão, algumas dicas bem gerais podem ajudar a reencontrar o equilíbrio:

1. Entenda e respeite a sua característica.

Aprender o máximo possível sobre a alta sensibilidade é o primeiro passo para avaliar seu estilo de vida e buscar mais equilíbrio. Entender como funciona o sistema neurossensorial de uma PAS lhe dá uma ferramenta fundamental para lidar com a característica no dia-a-dia. Sei por experiência própria que embora a alta sensibilidade seja um dom, nem sempre é fácil de conviver. Portanto, se você deseja canalizar sua sensibilidade e tirar proveito das suas vantagens deve aprender a cuidar-se com carinho e atenção. Não se obrigue a fazer coisas para as quais não está preparado (emocional ou fisicamente). Procure, na medida do possível, escolher situações que sejam adequadas para o seu temperamento. Tenha cuidado com a tendência a comparar-se aos demais. Você é diferente, nem melhor nem pior. Apenas diferente.

2.    Identifique seus gatilhos.

Ainda que todos sejamos PAS, cada um de nós é diferente e reage de forma diferente aos mesmos estímulos. Por isso é importante prestar atenção e identificar quais estímulos acionam o seu desconforto: As notícias dos jornais e TV o deixam ansioso(a)? O tráfego lhe deixa tenso(a)? O barulho da rua lhe incomoda?  Observe, observe e observe! Preste atenção especial as ocasiões em que você estava com fome, ou após uma noite mal dormida. Procure relacionar esses sinais com o seu momento de vida. Anote essas observações num diário e busque padrões e repetições.

3.    Preste atenção aos sinais do corpo

O corpo avisa quando nossa capacidade de tolerar estímulos está se esgotando. Os sinais são claros: dores de cabeça e de estômago, tensão muscular, mãos e pés frios, fome repentina, dificuldade para dormir, cansaço ao acordar, sensação de crispação diante de cheiros, vozes ou ruídos (como se os sentidos se fizessem ainda mais reativos), etc. É extremamente importante prestar atenção a este tipo de sensação, pois são como sirenes alertando para o fato de que estamos entrando na perigosa zona da sobressaturação.

4.    Descanse, descanse e descanse.

Uma maneira evitar o acumulo de informações não processadas é fazer pausas ao longo do dia. Levantar-se para esticar as pernas, dar um pequeno passeio ou tomar um chá (se você for como a maioria das PAS, a cafeína pode ser um problema) podem ser boas maneiras de ir esvaziando a mente durante o dia. A dra. Aron recomenda ficar longe de tudo ao menos uma vez por mês e fazer pausas relaxante durante a semana para apreciar a natureza ou receber uma massagem.  A meditação ou a prece também são uma forma de relaxar uma mente superagitada. 

5.    Desenvolva uma rotina para dormir e ao acordar.

O sono é uma das maiores necessidades para uma PAS. É somente durante o sono que a mente consegue desconectar e regenerar-se do acumulo de informações acumulada durante o dia. Portanto, faça do sono a sua prioridade. Pelo menos uma ou duas horas antes de dormir, desligue todos os equipamentos eletrônicos e se envolva em atividades calmantes, como ler um livro edificante.  Tente ficar um mínimo de 08 horas na cama, mesmo que não esteja dormindo. O simples fato de ficar quieto com os olhos fechados ajuda a descarregar a tensão. Mantenha a calma pela manhã também. Gaste alguns minutos centrando-se, seja praticando ioga ou meditação, ou lendo uma revista.

6.     Cuide da sua dieta

Quando estamos sob muita pressão e estresse tendemos a escolher alimentos menos nutritivos, como aqueles ricos em açúcares refinados e gorduras saturadas. Estas escolhas podem criar mais estresse a longo prazo, assim como outros problemas de saúde.  Informe-se sobre nutrição e suplementos vitamínicos adequados ao seu corpo e ao seu estilo de vida. Existem centenas de livros e sites com informação de qualidade sobre o tema. O importante é ter em mente que, sendo altamente sensível, seu corpo se ressente do bombardeio de estímulos aos quais é constantemente submetido e precisa de boas fontes de energia para auxiliá-lo no processo de regeneração.

7.    Desenvolva suas próprias estratégias:

Procure sempre que possível, descortinar uma alternativa que esteja sob o seu controle, que você possa decidir e executar como parte da sua responsabilidade para consigo mesmo.  Se multidões e barulho são um problema, encontre locais que sejam mais silenciosos e menos apinhados.  Para evitar a sobrecarga sensorial e a ansiedade, use fones de ouvido para bloquear o ruído. Reduza a estimulação externa dizendo não a coisas que você não precisa ou não gosta de fazer. Pessoas altamente sensíveis precisam de mais tempo do que outras para processar os acontecimentos do dia, então, não se sobrecarregue saindo à noite, por exemplo.

8.    Expresse suas necessidades.

Não-PAS simplesmente não processam da mesma maneira ruídos altos ou cheiros fortes ou outros estímulos que possam estar incomodando você. Então fale. Por exemplo, digamos que seu colega de trabalho tem o hábito de conversar em voz alta ao telefone. Se você acha que ele vai estar aberto a ajustar seu comportamento, explique que, embora não haja nada de errado com a sua atitude, você tem uma característica que faz com que seja mais difícil de conviver com determinados estímulos externos. Você não quer interferir com o seu estilo de vida, mas talvez ele pudesse falar um pouco mais baixo. Não tenha medo de dizer o que sente. Sendo uma PAS, o mais provável é que suas opiniões sejam o resultado de muita reflexão. Então vá em frente. Mas lembre-se de ser educado para não se tornar uma pessoa irritante, sempre exigindo que todos calem a boca.

9.    Pratique a aceitação

Se se trata de algo que você não pode alterar (como seu emprego ou uma pessoa próxima cuja convivência é difícil), pratique a aceitação. Aceitar uma situação não significa acomodar-se e não procurar mudanças. Significa, apenas, que você reconhece que existem coisas que estão além do seu controle e aceita-as como parte do momento presente. Quando você se revolta e sofre por conta dos problemas está apenas tornando-os ainda maiores, agravados pela carga extra do seu sofrimento. Quando decide aceitar o momento presente você libera as energias que estavam sendo drenadas pela queixa e reclamação para pensar com clareza e identificar aqueles aspectos sobre os quais pode, efetivamente, atuar para construir um futuro diferente. Falando em termos de coaching ontológico, diríamos que se trata de diferenciar entre seu círculo de preocupação e seu círculo de influência, concentrando-se neste último.

10.    Se procurar um terapeuta, busque alguém que conheça sobre as PAS.

Evite profissionais que oferecem coaching, acompanhamento, terapias, cursos, etc., e que não conheçam nada sobre a característica da alta sensibilidade. Entreviste antes o seu possível terapeuta e pergunte se ele já leu livros sobre o assunto, ou está, ao menos, familiarizado com o conceito e dispostos a aprender. Esta é uma recomendação que a própria dra. Aron tem feito repetidas vezes e a razão é fácil de compreender: nossa característica influencia toda a maneira como nos relacionamos com o mundo e é parte constitutiva de nossa personalidade. Como afirma a própria dra. Aron, trabalhar com profissionais (terapeutas conselheiros, coachs) que desconheçam o traço pode ser, não apenas ineficiente, como também danoso, na medida em que pode levar a uma confusão entre a alta sensibilidade e outros temas como a introversão ou a timidez. Portanto deve sempre ser levada em consideração num trabalho deste tipo.

Uma dica extra:

Por serem uma medicina para a alma os florais são uma maravilhosa alternativa para lidar com a tendência a saturação. Existem várias essências florais que ajudam as pessoas com alta sensibilidade a lidar com as características associadas ao traço. Para a questão da grande abertura as influencias ambientais e aos pensamentos e emoções alheios, a essência yarrow (florais da Califórnia) pode ser bastante útil para ajuda na tarefa de fortalecer o próprio centro e reforçar seus limites energéticos.  
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Espero que este artigo tenha lhe inspirado a cuidar melhor de si e da sua sensibilidade. Se precisar de mais algumas dicas sobre como lidar com a alta sensibilidade no seu cotidiano,baixe gratuitamente o meu e-book Dez Estratégias para Conviver com a Alta Sensibilidade”. Se pensa que precisa de ajuda para rever suas escolhas de vida e aprender a cuidar melhor da sua sensibilidade, conheca o PAS,  meu programa de coaching online para pessoas altamente sensíveis.

 

 

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Sobre o autor
Rosalira Oliveira Sou coach com formação em coaching ontológico e especializada em alta sensibilidade. Fiz minha transição recentemente, quando encerrei meu ciclo como pesquisadora e doutora em antropologia cultural e tornei-me criadora do “Ame sua sensibilidade”, um programa de coaching destinado a ajudar as pessoas altamente sensíveis a compreender e integrar em essa sua característica, de modo a viver uma vida com mais felicidade e significado.

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