Alta sensibilidade e PAS: muitos mitos e (algumas) verdades

Alta sensibilidade e PAS: muitos mitos e (algumas) verdades

30/11/2016 artigos Rosalira Oliveira

 

mitos e (algumas) verdades

O tema da alta sensibilidade começa a se tornar conhecido entre nós. Ainda que lentamente o público brasileiro começa a se inteirar da existência do traço e seu significado. É exatamente neste momento que uma série de equívocos começam a ser disseminados, seja na internet seja em outros meios de comunicação. Esclarecer desde o início algumas destas “falsas verdades” ajudará a estabelecer uma melhor compreensão do que significa ser altamente sensível. Algo importante não apenas para as pessoas que são altamente sensíveis, como também para aqueles que não o são, mas que compartilham sua vida com alguém que é PAS.

 

Uma das primeiras coisas a dizer sobre o assunto é que estes mitos (no sentido de falsas narrativas) sobre a alta sensibilidade são muitas vezes resultado do desconhecimento sobre o assunto. Na falta de informações precisas sobre o tema disponíveis em português muitas premissas do senso comum estão sendo apresentadas como verdades gerando uma serie de confusões e mal-entendidos.

 

Esta é uma das razoes pelas quais considero extremamente importante o trabalho de divulgação do traço e o esclarecimento sobre as características, comportamentos e atitudes compartilhadas pelas pessoas altamente sensíveis pelo simples fato de serem altamente sensíveis.   Também sempre vale a pena repetir que uma PAS nunca é “apenas” uma PAS. É também um indivíduo único com personalidade e história próprias. Compartilhar um traço genético não nos torna iguais e nem robozinhos pré-programados que apresentam sempre as mesmas reações. A alta sensibilidade diz respeito tão somente à maneira como um determinado tipo de pessoa recebe e processa os estímulos (tanto externos como internos) e suas consequências sobre suas emoções e qualidade de vida.

 

Alguns mitos sobre a alta sensibilidade

Dito isto examinemos algumas das falsas verdades difundidas a respeito da alta sensibilidade:

 

  • Trata-se de uma característica rara: Falso.  Este é um traço de personalidade compartilhado por cerca de 15% a 20% da população, tanto homens quanto mulheres. Isso equivale a dizer que de cada 05 pessoas no mundo, uma é altamente sensível. Fato que torna a característica algo comum, ainda que relativamente desconhecido até pouco tempo atrás.

 

  • É um tipo de distúrbio emocional: Falso. A alta sensibilidade é um traço de personalidade, não tendo nenhuma relação de causa e efeito com transtornos emocionais como depressão, ansiedade, borderline, etc. Nem todas as pessoas que sofrem com estes problemas são PAS e, obviamente, nem todas as PAS são acometidas por eles.

 

  • É um comportamento aprendido ou o resultado de algum trauma:  falso. Trata-se de uma característica hereditária, sendo, portanto, inata.  E mais anda, encontrada não apenas na espécie humana como também na maioria dos animais, desde moscas de fruta e peixes até cães, gatos, cavalos e primatas. Portanto, se você é uma pessoa altamente sensível, provavelmente um dos seus pais também o é. E, igualmente, os seus filhos contam com uma grande probabilidade de herdarem o traço.

 

  • Diz respeito apenas a forma como se lida com as emoções. Falso. A alta sensibilidade diz respeito ao modo como as pessoas captam e processam as informações (estímulos) fornecidos pelo meio ambiente. Um estudo realizado na Universidade Stony Brook (Nova York) e publicado em 2014, apresenta algumas conclusões sobre o funcionamento do cérebro das pessoas altamente sensíveis. De acordo com este estudo as PAS dispõem de um cérebro altamente emocional dotado de uma grande capacidade empática, o que as torna capazes de decifrar e intuir os sentimentos daqueles que estão à sua frente. Os pesquisadores concluíram, também, que, além de serem mais sensíveis aos estímulos visuais associados a rostos e emoções humanas, estas pessoas também têm um limite mais baixo a muitos estímulos físicos, tais como luzes brilhantes ou sons altos, mesmo ativando as estruturas cerebrais relacionadas à dor! (Portanto sua sensibilidade a estes estímulos não é “frescura” e nem “mimimi”, como podem ter lhe dito).   

 

  • É a mesma coisa que mediunidade ou vidência. Esta é uma questão delicada. O que podemos dizer é que não há, até o momento, nenhuma comprovação científica relacionando as duas coisas. Ainda que a sensibilidade a sutilezas seja parte integrante da definição da alta sensibilidade (como discuto abaixo), isso não significa, necessariamente, vidência ou sensitividade no sentido energético do termo. Nem todas as PAS têm a capacidade de ver espíritos, receber mensagens, canalizar energia de cura ou ver o futuro, embora algumas o façam.  O que parece ser empiricamente verdadeiro é que a maioria das pessoas altamente sensíveis busca um caminho espiritual (institucionalizado ou não) como um guia para a sua vida já que a questão dos valores é muito importante para elas.

 E alguns outros sobre as PAS

 

  • São sempre tímidas e introvertidas. Falso. Uma parte significativa (cerca de 30%) das pessoas altamente sensíveis são extrovertidas, apreciam estar em grandes grupos e se sentem energizadas com o contato social. Enquanto outras preferem grupos menores e atividades mais calmas, possivelmente como uma estratégia para evitar o desconforto causado pela estimulação excessiva. Já a timidez é um comportamento aprendido em razão de experiências passadas.  Como diz a dra. Aron, a  "timidez é um medo da avaliação social, e nós não nascemos com este medo", Ocorre que, por processarem tudo com muita profundidade, as PAS têm mais dificuldade em superar um momento de embaraço social, podendo, em consequência, desenvolver um comportamento tímido como estratégia para evitar sentir-se expostas ou criticadas.

 

  • São antissociais. Falso. Pelo contrário, a grande empatia que faz parte do traço torna as PAS extremamente hábeis no manejo das relações sociais.  Acontece que o fato de absorverem uma quantidade de estímulos bem maior do que a média das pessoas torna necessário que elas desfrutem de um tempo maior de recolhimento para se refazer e “limpar” seu sistema de tanta informação recebida. Mesmo as PAS extrovertidas necessitam desse tempo/espaço para se reequilibrar. Por isso mesmo uma PAS que se conhece e se cuida inclui pequenas pausas no seu cotidiano a fim de reequilibrar-se e evitar os perigos da saturação.

  • São frágeis. Falso.  Esta percepção vem do fato de confundirmos sensibilidade com fragilidade, algo que tem a ver com uma cultura que hipervaloriza a extroversão e a competitividade como modelos de comportamento. Um outro problema reside na confusão a respeito do significado da palavra “sensível”, que na linguagem cotidiana, significa também “delicado”, “frágil”, etc. Uma das causas desta confusão encontra-se na tradução do termo inglês “sensitive” que traduzimos como “sensível” em português. Isto faz com que falemos em “alta sensibilidade” ao invés de “alta sensitividade”, embora eu pense que a utilização deste último termo traria consigo um outro tipo de mal-entendidos.

 

  • São suscetíveis: Falso. Embora tenha a capacidade de sentir as emoções de forma bastante profunda, uma PAS que aprende a preservar o seu centro é perfeitamente capaz de lidar com o mundo externo sem ter seus estados de ânimo determinados por ele. Ocorre, porém, que, por conta da alta empatia, as fronteiras entre o eu e o outro podem ser extremamente frágeis e porosas em muitas pessoas altamente sensíveis, tomando-a particularmente influenciável pelos pensamentos e emoções alheios. Por isso mesmo o reforço do próprio centro e dos seus limites físicos e energéticos constituem um tema central a ser trabalhado pelas PAS.

 

  • Adoecem com facilidade: Falso. As pessoas altamente sensíveis não adoecem mais do que a média. Apenas, uma vez que os seus sentidos costumam estar mais alertas do que o das outras pessoas, chegam mais facilmente à condição de saturação ou hiperestimulação, que pode, a médio e longo prazos, levar a problemas de ordem física causados pelo estresse. Por isso é tão importante as PAS reconhecerem os seus limites e descansar sempre que sentirem necessidade para reenergizar-se e reequilibrar-se. Trata-se de um cuidado básico, mas crucial para o seu bem-estar físico e mental.  

 

  • São rabugentas e malhumoradas: Esta é uma meia verdade. Por um lado, a capacidade para processar profundamente as informações é parte essencial do traço. Isso leva uma PAS a “ruminar” um assunto, pensando e repensando sobre ele (mais ainda se se trata de uma mágoa ou de uma decisão a ser tomada). Por outro, o estresse decorrente da hiperestimulação e a sensação de não ser compreendida pelo que estão a sua volta, pode, sim, deixar uma pessoa altamente sensível irritadiça e mal-humorada (para dizer o mínimo!). Na ausência destes problemas, as PAS costumam ter um senso de humor sutil e delicado embora, de modo geral, tendam a levar a vida mais a sério que seus congêneres não PAS.

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E agora, algumas verdades

Exatamente como uma tentativa de afastar os mal-entendidos e esclarecer o significado atribuído por ela e pelos demais pesquisadores ao conceito de alta sensibilidade, a dra. Elaine Aron definiu quatro características essenciais que devem estar presentes para que uma pessoa possa ser identificada como PAS. Como ela faz questão de enfatizar, é necessário que todas as quatro características estejam presentes para que uma pessoa se encaixe nesta definição. São elas:

 

  • A tendência a processar muito profundamente toda informação recebida (magoar-se com facilidade, ruminar os assuntos, dar voltas e mais voltas a um problema ou circunstância buscando analisar todos os ângulos e prever as consequências de cada ação). Uma PAS costuma ser mais consciente do que média das pessoas, tanto do que está se passando tanto dentro dela mesma quanto no seu entorno.

 

  • Facilidade para sentir-se saturada e hiperestimulada, sobretudo quando necessita fazer muita coisa em pouco tempo ou processar muita informação (sensorial ou emocional) de uma única vez, como acontece, por exemplo, num shopping center na hora do pico ou em ambientes emocionalmente densos como hospitais. A saturação pode, inclusive, levar a um ponto de bloqueio no qual a pessoa se sente incapaz de qualquer ação por conta da sobrecarga sensorial ou a episódios de pânico ou hiperventilação.

 

  • Forte emocionalidade e empatia.  A pessoa altamente sensível vive a vida com muita intensidade emocional. Se sente comovida por um número quase infinito de situações e de coisas. Tanto a beleza como a tristeza podem tocar profundamente a sua alma. Por outro lado, isto pode levar também a uma tendência ao drama. Já a  empatia  a dota de uma imensa facilidade em se colocar no lugar do outro, chegando, por vezes, a se apresentar como fusão e dificuldade em estabelecer seus limites energéticos e emocionais. 

 

  • Sensibilidade para matizes e sutilezas. A pessoa altamente sensível apresenta uma elevada sensibilidade não apenas no que tange aos cinco sentidos (visão, tato, audição, gosto e olfato), como também, e especialmente em relação a informação “sutil”, como o “clima” entre duas pessoas ou o estado de ânimo de alguém. Em geral, as PAS também “sabem” intuitivamente o que fazer para alterar positivamente esta situação.  Embora nem sempre parem para pensar se podem (ou devem) atuar naquela situação específica.

 

Para resumir de uma maneira muito geral, poderíamos dizer que uma PAS absorve bem mais informação que as demais pessoas, ficando facilmente sobrecarregada com este acúmulo. Em consequência, costuma ser mais vulnerável ao stress, cansar-se mais depressa, ter mais dificuldades em estabelecer e manter seus limites, possuir um limiar mais baixo de tolerância à dor, entre outras características.

 

A pessoa altamente sensível precisa aprender a se proteger do estresse desnecessário e usar esta sensibilidade a seu favor.  Por vezes, é necessário um trabalho de autodesenvolvimento antes que a pessoa possa sentir-se segura para encontrar o seu lugar no mundo. Informação, autoconhecimento e respeito para com a própria sensibilidade são ferramentas importantes para ajudar as pessoas altamente sensíveis a se sentirem confortáveis com esta sua característica e compartilhar com os demais as muitas qualidades das quais são dotados. 

 

E você? Se você se identificou com as características enumeradas acima e quer saber se é uma PAS, responda ao TESTE elaborado pela dra. Aron. E se você já sabe que é uma PAS, e gostaria de aprender a conviver melhor com a sua alta sensibilidade, informe-se sobre o Programa Ame sua Sensibilidade. Talvez um trabalho de coaching seja indicado para você.

 

 

 

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Sobre o autor
Rosalira Oliveira Sou coach com formação em coaching ontológico e especializada em alta sensibilidade. Fiz minha transição recentemente, quando encerrei meu ciclo como pesquisadora e doutora em antropologia cultural e tornei-me criadora do “Ame sua sensibilidade”, um programa de coaching destinado a ajudar as pessoas altamente sensíveis a compreender e integrar em essa sua característica, de modo a viver uma vida com mais felicidade e significado.

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