Altamente sensível e o amor

Altamente sensível e o amor

28/07/2016 artigos Rosalira Oliveira

altamente sensível e o amor

Ufa! Reconheço que este é um dos temas mais difíceis para abordar. Para todos nós as relações afetivas são um ponto de inflexão, um espelho que reflete nossa alma. Nada é capaz de nos desvelar tanto quanto a experiência do amor e da parceria. Daí a dificuldade de tratar do assunto.

No caso das pessoas altamente sensíveis vários fatores podem tornar a vivência do amor e da relação afetiva um pouco mais complicada. Neste artigo gostaria de me deter em dois deles.

Em primeiro lugar, a tendência de grande parte das PAS a apaixonar-se rapidamente e de forma muito intensa, entregando-se de corpo e alma à outra pessoa, antes mesmo que o interesse se comprove e o romance amadureça. Uma das razões para este comportamento tem a ver com nosso grau de excitabilidade. Sabemos que uma pessoa, PAS ou não, se enamora mais facilmente quando se encontra em estado de excitação ou stress, com a adrenalina correndo à solta no seu sistema nervoso simpático. Sabemos também que uma PAS atinge mais rapidamente esse estado de hiperexcitação, e portanto, lhe custa menos enamorar-se.

Autoestima: um ponto nevrálgico 

Outra razão para esta atitude pode ser encontrada na baixa autoestima que, infelizmente, encontramos com frequência entre pessoas com alta sensibilidade. Um exemplo do modo como a baixa autoestima pode influenciar o processo de enamoramento encontra-se nesta história contada pela escritora e coach Karina Zegers de Bejil, em seu livro sobre a alta sensibilidade. Nossa heroína, uma PAS chamada Claudia, começou a receber presentes e recados amorosos em seu local de trabalho. Refletindo sobre a provável identidade do seu admirador secreto teve a certeza que se tratava de João, um colega pelo qual era apaixonada, platonicamente, há algum tempo. Teve, entretanto, uma grande surpresa quando, convidada a jantar com seu admirador, descobriu que se tratava de Miguel, outro colega de trabalho em quem nunca reparara antes. Após o jantar, depois de conversar com Miguel e ver o quanto ele a admirava, Claudia se descobriu não apenas apaixonada por ele, como também completamente esquecida do seu amor por João!

Essa história nos chama a atenção para o peso que a busca por amor e aceitação pode desempenhar no processo de enamorar-se. Insegura sobre si mesma e sobre sua atratividade, Claudia se encanta pela versão melhorada de si mesma, proporcionada pela admiração de Miguel e imediatamente dirige para ele todo o seu sentimento. Na falta de uma percepção interna do seu valor, a pessoa pode apresentar uma predisposição para apegar-se fortemente à primeira pessoa que lhe demonstre apreço e afeição, transferindo para esta a tarefa de supri-la do sentido de valor que lhe falta e que não é capaz de oferecer a si própria.

Você é tudo para mim

Outra armadilha para as PAS no amor é a tendência a “dar-se demais” dentro da relação amorosa. Dar-se demais de todas as maneiras possíveis: afeto, tempo, energia, espaço vital, dinheiro…. Aos poucos, a pessoa altamente sensível vai abandonando sua própria vida e seus interesses em função do ser amado. A vida passa a girar em torno da outra pessoa, como se apenas ela existisse e tivesse importância real, tudo o mais perde a cor e é secundarizado. A armadilha está exatamente no fato de que, na mesma medida em que renuncia a sua vida em função do outro, a pessoa PAS vai se tornando mais dependente e insegura, passando a tentar controlar cada vez mais o parceiro. Uma vez que uma parcela tão grande da própria identidade está depositada na presença do outro em sua vida, a possibilidade de perdê-lo torna-se quase uma morte.

Essa conduta cria uma profecia que se auto realiza. A pessoa que é objeto de todo esse zelo começa, aos poucos, a se sentir sufocada pelo que percebe como um excesso: excesso de cuidados; excesso de disponibilidade; excesso de presença; excesso de ciúmes, excesso de controle. E começa também, pouco a pouco, a sentir a necessidade de afastar-se desse circuito para respirar livremente. Com isso, a pessoa altamente sensível acaba por criar as condições para a confirmação dos seus temores.

Reconheço que o quadro que pintei acima é bastante triste e também bastante preto no branco. Na vida real as coisas têm diferentes nuances. Existem PAS e PAS. Muitas delas estão envolvidas em relações afetivas cheias de cumplicidade e de respeito, assim como existem outras que optaram por uma vida que não inclui uma parceria afetiva e são bastante felizes com sua escolha. O que pretendi aqui foi chamar a atenção para o fato de que a pessoa altamente sensível tem uma grande dificuldade de vigiar seus limites pessoais e uma enorme tendência a se perder no outro, esquecendo-se de si mesma. E que estas tendências podem ser bastante amplificadas dentro de uma relação afetiva.

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Ninguém pode determinar o curso que uma relação irá seguir e não existe uma fórmula “correta” para se viver o amor. Entretanto, se eu tivesse que arriscar, voltaria a falar da importância da autoaceitação e do autoconhecimento. Conhecer e amar a si próprio me parece uma condição indispensável para nos lançarmos na aventura do amor à moda PAS. Descobrir e fortalecer o nosso centro nos ajudará a vigiar nossos limites e aumentar nossa autoestima. Além disso, penso que há outros passos que podem nos ajudar a descobrir (e, se for o caso, transformar) o nosso estilo emocional. Alguns deles seriam:

1. Conhecer a si mesmo: É necessário saber quem você verdadeiramente é, independente do olhar do outro. O que lhe faz feliz? Quais são seus valores? O que você quer realizar na vida? Como pode se sentir uma pessoa plena, independente da relação afetiva?

2. Cuidar da autoestima: Observar-se com atenção e, no caso de identificar os problemas causados pela baixa autoestima, começar a trabalhar-se. Existem vários caminhos para isso: livros, cursos, terapias, ou um trabalho de coaching. Escolha o que melhor se adapte a você e comece.

3. Observar o próprio comportamento e fazer-se as perguntas dolorosas: Estou abrindo mão dos meus interesses em função do meu parceiro/a? Deixei de lado minha personalidade para me transformar naquilo que (imagino) seja o seu ideal de mulher ou de homem? Coloquei meus sonhos em segundo plano para estar sempre disponível? Sou capaz de me sentir feliz mesmo estando só ou faço qualquer coisa para evitar a solidão?

4. Prestar atenção à voz interior e agir em consonância com ela: Pergunte-se se existem determinados temas e comportamentos do seu parceiro/a que lhe incomodam e que você finge não ver por medo do conflito? É importante explorá-los juntos e, na medida do possível, desenvolver pactos. Antes que se tornem uma fonte permanente de ressentimentos e sabotem a relação.

5. Respeitar o outro como legítimo outro. A frase é do filósofo e biólogo Humberto Maturana e, para mim, significa permitir ao outro que seja ele mesmo. Respeitá-lo com suas luzes e sombras, dando-lhe espaço para crescer e realizar seus próprios sonhos. Penso que esta, talvez, seja a maior das conquistas. Não posso respeitar verdadeiramente o outro se o vejo como um instrumento para suprir minhas carências. Ou, nas palavras do próprio Maturana, “sem aceitação e respeito por si mesma, uma pessoa não pode aceitar e respeitar o outro, e sem aceitar o outro como legítimo outro em convivência, não há fenômeno social”. E nem amor verdadeiro, eu acrescentaria.

Se você se identifica com este artigo e sente necessidade de ajuda para fortalecer seus limites pessoais na relação afetiva, entre em contato comigo. Como coach especializada em alta sensibilidade, posso lhe ajudar a compreender sua maneira de relacionar-se afetivamente e oferecer-lhe ferramentas para apoiar seu processo de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal. Afinal, conhecer mais sobre a sua característica e descobrir a melhor maneira de lidar com ela no dia a dia, pode ser um passo fundamental para a construção da sua autoestima. Para saber mais a respeito do meu trabalho de coaching pessoal, conheça o PAS- Programa Ame sua Sensibilidade e descubra se ele é adequado para você.

Um grande abraço e boa leitura.

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Sobre o autor
Rosalira Oliveira Sou coach com formação em coaching ontológico e especializada em alta sensibilidade. Fiz minha transição recentemente, quando encerrei meu ciclo como pesquisadora e doutora em antropologia cultural e tornei-me criadora do “Ame sua sensibilidade”, um programa de coaching destinado a ajudar as pessoas altamente sensíveis a compreender e integrar em essa sua característica, de modo a viver uma vida com mais felicidade e significado.

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